Descrição de chapéu diabetes

Diabetes em crianças pede controle, mas dá para levar uma vida normal e sem dor

Irene, 6 anos, teve o diagnóstico há três meses, e agora já se acostumou com as medições (com e sem picada) e aplicações

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Irene Z. S., 6 anos, que desde agosto faz tratamento para o diabetes tipo 1 Jardiel Carvalho/Folhapress

São Paulo

Irene, 6 anos, andava irritada nos últimos meses. Quando desenhava, não tinha paciência para fazer as coisas dentro do traço, e na hora de sair para passear ficava chateada porque nem escolher suas próprias roupas ela vinha conseguindo. Uma noite, seu corpo começou a coçar bastante, e a irritação, claro, só piorou.

Larissa e Xico, pais de Irene, resolveram que era bom pedir para um médico olhar aquele coça-coça e foram de carro até um hospital. Chegando lá, os profissionais pediram que ela fizesse um exame de glicemia, que verifica a quantidade de açúcares circulando no sangue. O número normal é até 100, e o de Irene marcava 599.

Irene com sua mãe Larissa; ao lado, o aparelhinho de medir a glicemia - Jardiel Carvalho/Folhapress

"Ela foi direto para a UTI [Unidade de Terapia Intensiva]", conta a mãe Larissa. "Eu nem sabia o que era 599 num aparelhinho de glicemia. Eles repetiram três vezes o teste, trocaram de maquininha achando que aquela estivesse quebrada. E eu descobri que só ia conseguir sair daquele hospital se aprendesse tudo sobre a doença."

A doença, no caso, é o diabetes tipo 1, com o qual Irene foi diagnosticada no final de agosto. Ela está indo para o terceiro mês de tratamento, e sua vida já melhorou bastante. "Eu ficava cansada pra brincar e agora eu tenho mais energia. Quando eu ia pro médico, eu tava com muita dor de barriga e muita sede e vontade de fazer xixi. A doutora cuidou de mim", lembra.

A própria Irene explica o que é o diabetes tipo 1. "Meu corpo não produz insulina, então eu preciso aplicar", diz. "Eu não sabia que existia diabetes tipo 1. Ela é diferente da tipo 2, que os avós, avôs e grávidas geralmente desenvolvem", completa Larissa.

Eu meço a glicemia, aplico a insulina e como no horário certo. Às vezes eu tomo uma [insulina], às vezes três, às vezes quatro, às vezes cinco, às vezes seis. Depende da glicemia. A gente mede pelo Libre ou pela picadinha

Irene Z. S., 6 anos

craque no controle do diabetes

O médico Paulo Rosenbaum, endocrinologista do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que de fato o diabetes que ocorre na infância e na adolescência geralmente é o tipo 1, que é quando o pâncreas não produz mais insulina. E insulina, por sua vez, é esse hormônio que "quebra" o açúcar e o transforma em energia.

Se ninguém está lá para quebrá-lo, esse açúcar vai se acumular no sangue. "E esse excesso dos níveis de açúcar no sangue, que é a glicose, vai levar a uma série de problemas se não for controlado. Hoje existem insulinas muito modernas que podem fazer com que esses níveis de açúcar no sangue não se elevem e não levem a complicações", diz o doutor Paulo.

"Quem tem diabetes tipo 1 necessita de insulina e existem dois principais tipos: a basal, que é uma insulina lenta com ação prolongada, geralmente aplicada pela manhã, que vai durar o dia inteiro; e também a insulina ultra rápida, utilizada antes das refeições para evitar que a glicemia suba muito depois que a criança se alimenta", explica.

Kit com alguns dos itens de que Irene precisa para manter o controle do diabetes, incluindo caneta de insulina e medidor de glicemia - Jardiel Carvalho/Folhapress

E Irene já está muito craque nesse processo todo: "Eu meço a glicemia, aplico a insulina e como no horário certo. Às vezes eu tomo uma [insulina], às vezes três, às vezes quatro, às vezes cinco, às vezes seis. Depende da glicemia. A gente mede pelo Libre ou pela picadinha", afirma Irene.

O Libre a que Irene se refere é um leitor de glicose por sensor, sem agulhas. E a picadinha são os furinhos que ela precisa que sejam feitos na ponta do dedo da mão para coletar sangue e medir a glicemia. Uma gotinha já basta.

E, claro, os pais Xico e Larissa participam de tudo, da medição à aplicação, assim como a professora da escola de Irene —todos estão envolvidos no bem-estar dela. "Eu posso comer tudo, mas só se eu aplicar a insulina na quantidade certa. Posso fazer tudo, eu pulo corda, vou na natação, vou na escola. Eu falaria pras pessoas que descobriram que têm diabetes que não precisam se preocupar", diz.

"Eu senti medo e chorei porque era tudo muito desconhecido para mim. Eram muitas palavras novas e difíceis, e um mundo novo que eu tive que desbravar em pouco tempo. Fiquei insegura de não conseguir aplicar a insulina. Mas deu tudo certo, como falaram que daria", lembra Larissa. "Tem muita falta de informação. A palavra diabetes virou sinônimo de complicação, uma sentença chata. E na verdade não precisa ser assim."

O médico Paulo conta, por exemplo, que hoje em dia há agulhas muito fininhas e modernas para cuidar do diabetes, o que faz tudo ser praticamente indolor. "Não dói, não", confirma Irene.

Para o endocrinologista, muitos adultos ainda ficam preocupados quando uma criança recebe o diagnóstico de diabetes porque acham que não dá para se ter uma vida "normal". "O tratamento evoluiu muito. Existem alguns traumas de gerações antigas, mas hoje, com as novas insulinas e o acompanhamento correto, uma criança pode realizar tudo o que ela deseja."

O diabetes é uma doença que não tem cura, mas tem controle. "Tenho aprendido diariamente sobre ele. E Irene é uma criança que tem interesse em saber mais também, então estamos aprendendo todos juntos aqui em casa", diz Larissa.

Por fim, doutor Paulo dá um recado aos adultos responsáveis por crianças: ao contrário do que alguns pensam, os doces não provocam o diabetes. O que acontece, na verdade, é que eles podem aumentar os níveis de açúcar no sangue. "Não é porque a criança vai comer doce que ela vai virar diabética", diz.

"Lógico que crianças que estão acima do peso podem desenvolver diabetes no futuro porque o doce não é saudável. Mas, no geral, o doce pode entrar em uma alimentação saudável, com orientação de um médico ou nutricionista, e acompanhado de atividade física."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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