Descrição de chapéu alimentação

Saber que comidas não 'nascem' em embalagens é bom para a saúde e para o planeta

Crianças falam sobre salada e salgadinho enquanto livro 'O Que Vai Ter Para Comer?' conta o caminho de alimentos até o prato

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Vai um prato de salada aí? Karime Xavier/Folhapress

São Paulo

Antonio P. não gosta de miojo. Sabe aquele macarrão instantâneo com tempero em pó que vem no pacotinho? Pois ele detesta. "Acho que tem um gosto muito artificial, tipo, 'miojo sabor camarão'. Parece o gosto da praia", explica. Ele também não curte azeitona, porque é "meio azeda", nem coisas muito concentradas, como mel ou suco.

Morador de São Paulo, Antonio tem 11 anos. Sua comida favorita é macarrão com atum e brócolis. "De cenoura crua eu também gosto, salmão grelhado e de uns hambúrgueres e tapioca. Na minha casa é bem frequente ter arroz, feijão e frango com legumes", conta.

Antonio I. P. , 11 anos, que detesta macarrão instantâneo - Karime Xavier/Folhapress

Rafael F. B. tem 9 anos e mora em Belém do Pará. Ele também é fã de macarrão (não o miojo), e o ideal é que venha servido com molho branco. "Salada eu não gosto, mas eu como porque sei que faz bem. Açaí eu não gosto e não como", diz o Rafa. Na casa dele, se come pouca maionese e ketchup, mas nunca faltam o arroz, o feijão e… a salada.

Rafa conta que há uma comida que é a cara da sua família: o churrasco. E essa história de comidas que representam um grupo de pessoas, seja uma sociedade imensa, seja um lar pequenino, tem um nome, são as "comidas-totem". Esse conceito é apresentado no livro "O Que Vai Ter Para Comer" (editora Panda Books, 80 páginas, R$ 53,90), de Ariela Doctors e Maísa Zakzuk.

"Minha comida-totem é o cuscuz marroquino. Minha mãe e meus avós são marroquinos", diz Ariela. "Aqui em casa é o arroz com lentilha, a mujaddara", completa Maísa.

Raul H. B., 12 anos, mora em Portão, no Rio Grande do Sul. Embora ele ame sushi, a comida-totem da sua família é o arroz carreteiro. "Ou uma galinhada, ou o churrasco", complementa. Raul conta que sabe diferenciar os alimentos saudáveis dos outros tipos: "O saudável não tem muitas calorias nem é muito gorduroso. O não-saudável é refri [refrigerante], hambúrguer, besteiras".

Esse assunto, sobre as comidas que fazem bem e as que podem fazer mal, também faz parte do livro "O Que Vai Ter Para Comer". Nele, as escritoras contam para as crianças a história da alimentação desde quando não havia feira livre na rua, supermercado, loja de conveniência, muito menos uma loja do Oxxo em cada esquina da cidade.

"As pessoas viviam em pequenos grupos, não tinha essa coisa da coletividade, era um salve-se quem puder!", brinca Ariela. "Eles caçavam animais, comiam plantas e tudo mais que se encontrava no caminho."

"O ser humano é o único animal que cozinha para comer, sabia?", pergunta Maísa. "Mas naquela época ainda não faziam isso, a alimentação partia da necessidade. Imagina qual foi o primeiro louco que quis comer um ovo ou um cogumelo?".

As autoras também falam sobre o surgimento da agricultura e da importância das mulheres nesse processo até hoje, contam sobre a criação de animais e os tipos de solo e explicam coisas importantes sobre os agrotóxicos —como por exemplo o conceito dos alimentos orgânicos, criados sem pesticidas.

Acho que um alimento saudável vem diretamente da natureza, sem ser feito em um maquinário onde vão ficar metendo sódio, conservante, açúcar, aditivos não necessários e corantes

Antonio, 11 anos

hater de miojo

Dali, elas partem para mostrar o processo de fabricação de alimentos que não vêm da natureza. Antonio, o hater de miojo, entende bastante desse assunto. "Acho que um alimento saudável vem diretamente da natureza, sem ser feito em um maquinário onde vão ficar metendo sódio, conservante, açúcar, aditivos não necessários e corantes", diz.

Rafa, de Belém, concorda: "Se eu plantar uma folha e botar no prato e comer vai ser saudável, uma bolacha do mercado é menos saudável. Quanto mais passou por fábrica, menos saudável é".

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Rafa, que mora em Belém do Pará - Arquivo Pessoal

Um dos objetivos de Ariela e Maísa é que todo mundo, crianças e adultos, se reconectem com o conhecimento de como as comidas chegam aos nossos pratos. "Todo mundo sabe como foi feito um celular, mas e os alimentos? É preciso saber que a alface, por exemplo, foi uma sementinha na terra que foi regada e nasceu", acredita Ariela.

Ilustração de Bruna Barros para o livro 'O Que Vai Ter Para Comer?' - Divulgação

Ela, que também é professora, conta que um dia levou um peixe a uma escola para cozinhar com seus alunos. "Eles ficaram impressionados que ele tinha olhos, rabo etc. Isso acontece porque não fazemos esse paralelo, achamos que ele nasceu na bandeja de isopor."

"Eu não sei o que é saudável. Chocolate não é saudável porque ele é um doce", opina Helena C., 4 anos, atualmente aluna de Ariela, e que adora bolinha de queijo mais do que todas as outras comidas.

"Chocolate não pode comer todo. Dá dor de barriga", completa Liz S., 3 anos, colega de escola de Helena, que adora estrogonofe. "Alface faz bem pra saúde, e eu adoro tomatinho também."

Paco V. S., 4 anos, que estuda com elas, ama macarrão comprido e pinhão. "Quando meu pai e minha mãe descascam eu gosto de comer a casca. Não gosto do gosto de goiabada nem de arroz e feijão. Meu pai e minha mãe não me deixam comer salgadinho de pacote, e nem eles comem", conta.

Para Maísa, autora do livro, prestar atenção ao que temos no prato é uma atitude poderosa. "Quando você olha para o que vai comer, fica mais vigilante com o mundo e com a natureza, e também com o desperdício. Sem desperdício, a gente contribui para uma melhor distribuição dos alimentos no mundo."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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