São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 1999




Regime de Mao trouxe
fome e perseguições


‘Grande Salto para a Frente’ desorganizou economia e Revolução Cultural levou à morte de milhões que se opunham ao pensamento do ‘grande timoneiro’


da Redação

Aos 50 anos, a Revolução Chinesa apresenta uma trajetória que não é marcada apenas pela decolagem econômica iniciada com as reformas pró-capitalismo em 78. Experiências anteriores do Partido Comunista sob Mao Tse-tung (1893-1976) provocaram ondas de fome e perseguição que deixaram milhões de mortos.
“Nada a celebrar”, afirma, sobre o cinquentenário da revolução, o jornalista Jonathan Mirsky na revista americana “New Republic”. O artigo lembra a “ação destrutiva” do Partido Comunista, que teria provocado a morte de 30 a 60 milhões de pessoas durante o “Grande Salto para a Frente” (1958-1959) e outro tanto na Revolução Cultural (1966-1976).

Guerras e Conflitos


Em 1953, seguindo o modelo soviético, os chineses haviam implantado seu primeiro plano quinquenal de desenvolvimento. O país cresceu, mas não no ritmo desejado por Mao. Assim, em 1958, foi lançado o “Grande Salto”, um plano para acelerar a industrialização do país e “superar a Grã-Bretanha em apenas 15 anos”. Foram criadas comunas populares no campo, que deveriam produzir aço em pequenos fornos para fabricar ferramentas.
Essa política, mal planejada e apoiada no ‘‘voluntarismo’’, teve resultados desastrosos. A produção industrial caiu e as colheitas foram péssimas, provocando uma escassez de alimentos. Deng Xiaoping, que havia apoiado a iniciativa de Mao, passou a criticar o programa: “Um burro é sem dúvida lento, mas pelo menos não cai em buracos”, diria depois.

Evolução da população chinesa (em milhões)
ano população
800 a.C. 13,7
200 d.C. 59,6
1100 100
1381 59,9
1762 200
1803 302
1834 401
1953 583
1964 723
1984 1.074
1998 1.238,6
2050 1.470


Ainda em 1959, Mao foi forçado a reconhecer os erros cometidos. Renunciou à Presidência da China e foi substituído por Liu Shaoqi. Fortalecido, Deng iniciou reformas para estimular a adoção da pequena propriedade privada.
A reação de Mao veio em 1966. Uma peça de teatro que o criticava indiretamente foi condenada. Com o apoio do Exército, Mao anunciou o início da Revolução Cultural, um novo período de luta entre correntes partidárias, no qual os jovens deveriam criticar seus superiores e derrubar ‘‘velhos hábitos, as velhas idéias e a velha cultura’’. Os estudantes maoístas criaram uma “Guarda Vermelha”, que passou a atacar os adversários do líder.
Em novembro de 1966, Liu e Deng foram acusados de enveredar pelo “caminho do capitalismo”. O primeiro morreu na prisão em 1969. Deng foi torturado, mas sobreviveu. Com a Revolução Cultural, Mao retomou o controle, e o manteve até sua morte, em 1976. Dois anos depois, reabilitado, Deng retomou sua política de abertura.


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