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Desemprego e corrupção
são desafio chinês
Ao implantar reformas no socialismo à chinesa,
Partido Comunista obtém relativo sucesso na área econômica,
mas alimenta áreas de tensão social
do enviado à China
O Partido Comunista,
embora registre sucessos na área econômica e consiga empurrar
ventos nacionalistas, sabe que o seu socialismo com características
chinesas produz efeitos que alimentam tensões sociais.
Entre os principais desafios, está o aumento do desemprego e a
crescente corrupção.
Associated
Press
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Migrante
chinês que deixou o interior do país dorme em rua de
Pequim
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Esses fatores preocupam hoje o governo mais do que o movimento pró-democracia.
Primeiro, porque a repressão mantém suas garras afiadas
e impede o surgimento de organizações que possam repetir
os protestos estudantis da praça Tiananmen (Paz Celestial), que
terminaram com o massacre promovido por tropas do governo em 1989. O governo
estima em 200 o número de mortos. Grupos de defesa dos direitos
humanos falam em até 2.000.
REPRESSÃO
Os efeitos da repressão de Tiananmen sobrevivem até hoje.
O movimento estudantil não conseguiu se reorganizar, e o governo
deixou clara sua mensagem: Vocês têm liberdade
para ganhar dinheiro, mas não para contestar a permanência
do PC no poder.
France
Press
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Policiais
conversam com mulheres
suspeitas de pertencer a seita proibida
pelo governo
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Em 98, a China admitiu a existência de 2.050 presos acusados de
subversão ou atividade contra-revolucionária.
Grupos pró-direitos humanos avaliam haver 10 mil prisioneiros políticos
no país. A eficiente máquina repressiva mantém sob
rígido controle os movimentos separatistas no Tibete, dos seguidores
budistas do Dalai Lama, e no Xinjiang, região no noroeste do país
habitada por etnias muçulmanas.
A principal surpresa recente para o PC surgiu neste ano e não veio
de um grupo pró-democracia ou separatista. Foi protagonizada por
uma seita que, contrariando as leis que proíbem manifestações,
reuniu, em abril, 10 mil pessoas às portas da sede do governo em
Pequim. Os seguidores da Fa Lun Gong, crença que mistura elementos
de budismo e meditação, exigiam o reconhecimento da seita.
O culto foi banido.
O episódio Fa Lun Gong mostrou que o governo continua a temer qualquer
tipo de organização fora do seu controle. O Partido Comunista
continua se recusando a admitir um projeto de abertura política,
mas tenta mostrar como sinal de flexibilidade e laboratório
para experiência a introdução de eleição
direta para prefeito em vilarejos rurais.
O crescimento da seita evidenciou também o sucesso de apelos feitos
por grupos que buscam canalizar o descontentamento com os efeitos colaterais
do socialismo à chinesa. A Fa Lun Gong fala,
por exemplo, na cura dos efeitos do estresse por meios alternativos,
uma proposta que soa como música a desempregados.
COMPETITIVIDADE
Com as reformas pró-capitalismo, competitividade e produtividade
se tornaram palavras frequentes no vocabulário econômico
chinês. O PC abriu mão de sua promessa de emprego para todos.
Nas zonas urbanas, com uma população de cerca de 409 milhões
de habitantes, o desemprego já atinge 3,1% (cerca de 12 milhões),
segundo estimativas oficiais. Sobre a área rural, não há
dados, mas o governo admite a existência de um exército de
100 milhões de camponeses vagando pelo país em busca de
trabalho.
O desemprego e o fantasma da instabilidade social são, atualmente,
a principal ameaça ao regime. Para enfrentar o desafio, o governo
transformou, em 98, o Ministério do Trabalho em Ministério
do Trabalho e da Previdência Social. Mais uma admissão de
que o Estado já não está automaticamente organizado
para garantir o paraíso aos proletários.
Temos de enfrentar não apenas a pressão das
demissões feitas por estatais que buscam ser mais competitivas,
afirma Liu Yong Fu, chefe de gabinete do novo Ministério do Trabalho
e da Previdência Social. Temos também de gerar
emprego para 8 milhões de novos trabalhadores ao ano.
As empresas estatais, responsáveis por 30% da produção
industrial chinesa, despontam como maior dor de cabeça para o governo.
Em 1998, o resultado total dessas 300 mil companhias apresentou um prejuízo
21,9% maior do que no ano anterior. E uma das chaves para para sanear
essas indústrias é demitir trabalhadores.
Cerca de um terço da mão-de-obra nas empresas
estatais é excedente, calcula Liu Yong Fu. O governo,
no entanto, descarta demissões e privatizações em
massa, com medo da instabilidade social.
Para os que perderam seu trabalho na área estatal, o governo oferece
seguro-desemprego durante dois anos e num valor entre 70% e 80% do último
salário.
Temos também um programa que busca estimular demissões
voluntárias, a fim de encaminhar esses trabalhadores para o setor
privado, conta Liu Yong Fu.
O premiê Zhu Rongji, ao assumir o cargo em 98, prometeu completar
em três anos a reforma das paquidérmicas companhias estatais,
herança pesada dos tempos maoístas. Mas, na semana passada,
o Partido Comunista já colocou o longínquo 2010 como prazo
para tornar as estatais competitivas e saudáveis,
sem detalhar a fórmula a ser seguida.
Não devemos seguir, de maneira nenhuma, o caminho das
privatizações, sentenciou o Diário
do Povo, porta-voz do PC. Segundo ele, as estatais que controlam
setores como energia e telecomunicações devem se
fortalecer e expandir.
O presidente Jiang Zemin lançou uma ofensiva anticorrupção
que levou a imprensa oficial a estampar escândalos envolvendo membros
do governo. Chegou a ser preso o então integrante do Politburo
(principal órgão dirigente do Partido) e ex-prefeito de
Pequim Chen Xitong. Ele foi acusado de receber propinas para autorizar
construções na capital.
Jiang promove também reformas no Judiciário, para aperfeiçoar
o combate à corrupção e melhorar as garantias aos
investidores estrangeiros. Mas começamos as reformas
tarde, apenas nos anos 80, diz Duan Zheng Kun, vice-ministro
da Justiça.
O PC busca promover uma imagem de probidade. Sabe
que o regime que o antecedeu, o do Kuomintang (nacionalistas), sofreu
ataques e causou impopularidade devido à corrupção.
Quer evitar o mesmo destino dos derrotados em 1949.
(JAIME SPITZCOVSKY)
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