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O que é socialismo com características chinesas
do enviado à China
O dirigente comunista Deng Xiaoping, em 1978, deslanchou a principal revolução
capitalista deste fim de século, ao iniciar a introdução
da economia de mercado na China.
Para tentar descrever o malabarismo que une sistema econômico baseado
no capitalismo a uma estrutura política apoiada no comunismo, o
governo chinês criou a expressão socialismo com
características chinesas.
Essa mistura, desafio para os conceitos que conjugam liberdade política
e econômica, reúne forte participação estatal
na economia, nascente setor privado financiado principalmente por capital
estrangeiro e as chamadas cooperativas, companhias ligadas a estruturas
de poder local (municipal ou regional) e que contam com a participação
dos trabalhadores na sua condução.
Segundo o governo chinês, o Produto Interno Bruto (PIB, quantidade
de riquezas produzidas pelo país), estaria hoje praticamente dividido
em partes iguais entre esses três setores (33% para cada um).
As empresas estatais controlam, por exemplo, os setores estratégicos,
como energia, transporte, telecomunicações e siderurgia.
As cooperativas e as empresas privadas, sejam de capital chinês,
joint ventures (associação com parceiro estrangeiro) ou
de investidores de fora do país, se concentram na indústria
leve (brinquedos e roupas), no comércio e na área de serviços.
Como objetivo principal delas, a exportação.
A forte presença de uma burocracia estatal, formada pelos funcionários
do Partido Comunista, cria deformações que levaram o sistema
chinês a ser chamado de capitalismo de guanxi.
A palavra em chinês quer dizer relação
e se refere à importância de ter conexões nas estruturas
burocráticas, que ainda guardam peso fundamental para influenciar
o mundo da iniciativa privada.
Esses funcionários públicos emitem licenças de funcionamento,
alvarás e uma miríade de documentos exigidos num país
que, segundo alguns historiadores, seria o berço da burocracia.
Portanto, para empresários chineses e investidores estrangeiros,
a chave para o sucesso na China está no guanxi,
um mecanismo que favorece a corrupção.
ESTRANGEIROS
Na China, o capital estrangeiro é, ao lado dos investimentos do
governo, o combustível que faz o carro andar. Em 1998, o país
recebeu mais de US$ 45 bilhões, ficando atrás apenas do
Reino Unido (2º) e EUA (1º), segundo a Unctad (Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento).
O espírito chinês também ajuda
a chegada de capitais. Calcula-se que cerca de 80% dos investimentos externos
existentes no país venham de chineses da diáspora, estimulados
por condições propícias ao investimento, como incentivos
fiscais, e pelo sentimento patriótico.
Investidores chegam ainda em busca de mão-de-obra barata. O salário
mínimo varia entre as regiões da China. Em Pequim, contabiliza
250 yuans (US$ 30), mas em regiões mais remotas, como no Xinjiang
(noroeste), pode alcançar só 160 yuans (US$ 19,5).
Os investidores estrangeiros já não pensam apenas em montar
empresas voltadas à exportação. Agora, dirigem-se
também ao consumidor chinês, cuja renda per capita saltou
de US$ 195 em 1990 para US$ 774 em 1998.
Com o avanço das reformas e o aumento das diferenças sociais,
também mudam os objetos de desejo do consumidor
chinês. Nos anos 80, eles eram a bicicleta, a máquina
de costura e o relógio, diz Shi Zhongquan, do Instituto
de Pesquisa do Comitê Central do PC. No começo
dos anos 90, computador, geladeira e TV. Agora, a lista é celular,
carro, casa e viagem de turismo ao exterior.
O socialismo com características chinesas
cria situações estranhas, como a da compra de uma casa:
o proprietário é dono da residência, mas, como a terra
ainda pertence ao governo, ele recebe um certificado de usufruto do terreno
por até 90 anos. (JS)
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