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Países podem gerar próxima
Guerra Fria
Ascensão da economia chinesa e provável busca
pela hegemonia na região asiática podem acirrar
rivalidade entre Estados Unidos e China
MARCIO AITH
de Washington
Quase três
décadas depois da visita histórica do ex-presidente Richard
Nixon à China comunista, em 1972, as circunstâncias que permitiram
a construção de uma parceria estratégica entre Washington
e Pequim ao longo deste período já não existem mais.
21.fev.72
- Associated Press
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Em
1972, Richard Nixon, o primeiro presidente dos EUA a visitar a China,
cumprimenta Mao
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O fim do regime soviético e a ascensão da China à
categoria de uma das potências econômicas e militares do planeta
transformaram o regime e o poder comercial chineses em novos fantasmas
aos olhos de parte dos EUA.
Como resultado, os dois países parecem rumar para uma rivalidade
que deverá marcar as primeiras décadas do novo século.
Tal rivalidade já desponta como o principal assunto externo debatido
na campanha presidencial norte-americana. Os pré-candidatos do
Partido Republicano acusam o presidente Bill Clinton e seu vice, o pré-candidato
democrata Al Gore, de fragilizar as defesas dos EUA ao sucatear as forças
militares e permitiindo que a China roubasse segredos militares.
As opiniões sobre a intensidade dessa rivalidade são divergentes.
Variam conforme os autores que as fazem e com base nos movimentos de aproximação
e de afastamento entre os dois países.
France
Press
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Bill
Clinton recebe em Washington Jiang Zemin, presidente chinês
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País mais populoso do mundo, a China deverá ter também
a maior economia do globo em 2015.
Até lá, estima-se que a classe média chinesa sozinha
se iguale, numericamente, ao total da população norte-americana,
formando o mais influente mercado consumidor do mundo.
Isso dará ao governo chinês um poder inigualável
de barganha e de pressão nas suas relações bilaterais
e dentro de organismos multilaterais como a Organização
Mundial do Comércio, disse Tom Condon, principal analista,
em Hong Kong, do banco de investimentos Morgan Stanley.
A China poderá atuar no cenário econômico internacional
com a mesma desenvoltura com a qual os EUA agem hoje, disse ele.
No campo político, o combustível para o aumento da rivalidade
é ainda maior. A derrocada soviética e a proibição
imposta ao Japão no final da 2ª Guerra Mundial de construir
poderio militar ofensivo podem deixar a China como potência hegemônica
na Ásia.
Isso contraria frontalmente a mesma estratégia da Casa Branca,
cuja quebra justificou a participação dos EUA em três
guerras no continente durante o século 20 e que consiste em impedir
que um país consolide o poder na Ásia.
Associated
Press
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Soldados
do Exército de Libertação, o maior do mundo
em contigente, realizam manobra militar em praia da China
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A 2ª Guerra Mundial e as guerras no Vietnã e na Coréia
foram motivadas pelo desejo dos EUA de brecar os objetivos e planos do
Japão e da ex-União Soviética.
Essa estratégia dos EUA ficou clara com a recente revelação
dos diálogos secretos tidos, na década de 70, pelo ex-secretário
de Estado Henry Kissinger com o dirigente chinês Mao Tse-tung e
com Leonid Brejnev, então secretário-geral do PC da URSS.
Kissinger cumpriu
rigidamente a disposição histórica dos EUA de criar
dois pólos de poder na Ásia e de jogar um contra o outro.
Aproveitando-se do rompimento de Pequim com Moscou, Kissinger foi à
China e alertou Mao sobre um hipotético plano soviético
de invadir o país. Ao mesmo tempo, avisou Brejnev que Mao, usando
seu gigantesco exército, poderia ameaçar a soberania territorial
soviética.
Naquela época, ficou famosa a seguinte frase de Kissinger: Uma
vez que a China se torne forte o suficiente para se sustentar sozinha,
poderá nos descartar. Um pouco mais tarde poderá até
se virar contra nós, se a percepção de seus interesses
assim exigir.
Para grande parte dos norte-americanos, chegou a hora de a China se voltar
contra Washington, e os EUA devem se preparar. A China já
elegeu os EUA como inimigo supremo do país. Dadas as características
do regime totalitário de Pequim, a ascensão chinesa na Ásia
ameaça a democracia no mundo e o equilíbrio de poder na
região, diz Ross Munro, co-autor do livro The Coming
Conflict With China, (O Futuro Conflito com a China),
que prevê um novo período de Guerra Fria no mundo.
Munro acredita que a intimidação militar virá em
breve. Isso é inevitável. Há algo de errado
com a ambição chinesa. Eles não sabem outra estratégia
que não a de impor, com métodos intimidatórios, seu
regime e sua filosofia aos países vizinhos.
O livro de Munro foi criticado por autoridades chinesas, para quem os
autores tentam dar uma justificação moral para os objetivos
intervencionistas e expansionistas dos EUA na Ásia, travestindo-os
de ações humanitárias.
Segundo elas, Munro e o outro autor do livro, Richard Bernstein, difamaram
as intenções do governo de Pequim. Para eles, os chineses
têm total influência para reivindicar a hegemonia na Ásia,
que, embora possa ameaçar os EUA, é saudável para
o mundo.
Munro discorda. Ele lembra as denúncias, feitas por entidades e
governo dos EUA, de violações de direitos humanos na China
e das ameaças ao uso, por Pequim, de força militar para
reintegrar Taiwan ao território chinês.
Apesar dos nossos problemas, os EUA são pluralistas e democráticos.
A hegemonia norte-americana não ameaça as democracias no
mundo. A China, instintivamente, quer voltar para o único modelo
histórico que sabe ter efeitos práticos no sentido de garantir
sua segurança e poder. Um modelo em que os países vizinhos
servirão como subalternos de sua política externa dominante.
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