São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 1999




Entenda como funciona
o poder do PC chinês


do enviado à China

Em seu novo ‘‘coquetel ideológico’’, o Partido Comunista Chinês traz o filósofo Confúcio como principal novidade para preencher o vácuo ideológico deixado pelo desvanecimento do marxismo. Resgata uma leitura das idéias confucionistas que enfatiza valores como ‘‘ordem, disciplina, hierarquia e obediência’’.
Quem comanda essa operação é Jiang Zemin, presidente da China e secretário-geral do PC. Ele é o herdeiro ungido por Deng Xiaoping em 1989, logo após o massacre do movimento pró-democracia da praça Tiananmen (Paz Celestial), em Pequim.
Jiang dirige um PC que se mantém fiel às suas origens. No partido, sobrevive uma estrutura fortemente hierarquizada e com capilaridade suficiente para fazer sua orientações chegar a ‘‘comitês’’ em bairros, escolas e estruturas militares.
A escolha dos personagens dessa engrenagem política depende das decisões de instâncias superiores e não de eleições.
Para governar num sistema politicamente centralizado, Jiang tem de começar pelo controle do Politburo, principal órgão dirigente do partido e que reúne os sete ‘‘mandarins’’ do país.
A partir do Politburo, Jiang controla a máquina partidária, que envolve toda a estrutura de poder, como governadores e prefeitos. Também preside a Comissão Central Militar, que coordena as Forças Armadas, e controla forças de repressão, como a polícia.
Mas Jiang Zemin tem de negociar com as alas e clãs do partido, que cultivam diferentes interesses políticos e econômicos. Enquanto alguns grupos se definem como ‘‘conservadores’’, outros pressionam por mais reformas.
Jiang, portanto, não reina absoluto como Mao e Deng. Seguindo seu padrinho político, evita o culto a sua personalidade, um fenômeno associado aos períodos mais duros do maoísmo.
O culto fanático a Mao foi substituído por uma ‘‘reverência moderada’’. Mas os principais símbolos que restam, seu retrato e mausoléu, descansam simbolicamente na praça Tiananmen, o coração de Pequim.
A mensagem é clara: Mao pode não ser mais deificado como antes, mas o poder ainda pertence ao PC que ele liderou. (JS)


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