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MULHER
Escritora fala de "submissão"
SYLVIA COLOMBO
de Londres
O comunismo trouxe às chinesas relativa igualdade em relação
aos homens, mas os dois passaram a ser iguais na escravidão
e submissão a Mao Tse-tung.
Patrícia
Santos- 10.abr. 95/Folha Imagem
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A
chinesa Jung Chang
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A opinião é da escritora chinesa Jung Chang, 47, autora
de Cisnes Selvagens (1991), livro que analisa as mudanças
na sociedade e na política chinesa por meio da biografia de três
gerações de mulheres: a autora, sua mãe e sua avó.
Jung está trabalhando numa biografia de Mao, ao lado do marido
Jon Halliday. O livro será lançado no Reino Unido em janeiro
de 2001. Em entrevista à Folha, em sua casa em Londres,
Jung falou sobre sua visão da mulher chinesa à luz das mudanças
históricas do país.
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Folha - Como é a posição da mulher na sociedade
chinesa hoje, comparando com a da época de sua avó, por
exemplo?
Jung Chang - Depois de terminar Cisnes Selvagens, pensei
em como seria descrever as mudanças sociais em relação
a uma quarta geração de mulheres, que viria depois de mim.
Penso que, se fizesse isso, sentiria transformações bem
mais rápidas, pois o processo de abertura da sociedade chinesa
é cada vez mais acelerado, e as mulheres estão desenhando
seu espaço, apesar de todas as dificuldades que a tradição
e a política colocaram em seu caminho.
Folha - Como assim?
Jung - As mulheres não só conquistaram muito no terreno
da liberação sexual _estamos falando de uma sociedade que
viveu de casamentos arranjados por muito tempo_, como no da participação
na economia e na sociedade.
Folha - Mas isso acontece em toda a China? Como é, por exemplo,
na zona rural?
Jung - Não, obviamente não estou falando de todo
o país. Acho que, nas grandes cidades, as mulheres vivem como as
mulheres das grandes capitais européias. Na China rural é
bem diferente. Diria até que as três gerações
que descrevi em Cisnes Selvagens convivem ali, ainda
que sem a tradição do concubinato ou dos pés atrofiados
(mulheres tinham os pés enfaixados para evitar que crescessem,
pois o pé pequeno era um dos padrões de beleza), de que
minha avó fez parte.
Folha - Como assim? Por exemplo, no livro você relata que
sua bisavó não tinha nome porque vinha de uma família
pouco importante e por ser mulher. Isso ainda acontece?
Jung - Não, não acontece. O que quero dizer é
que em alguns lugares distantes dos grandes centros e muito conservadores,
as mulheres têm a mesma importância na sociedade que tinham
na época em que era concebível que uma pessoa não
recebesse um nome, como ocorreu com minha bisavó.
Folha - Com Mao a mulher começou a atingir uma igualdade?
Jung - É preciso ter muito cuidado ao falar disso. Sim,
foi com os comunistas e com Mao que o sistema de concubinato acabou, assim
como a tradição dos pés atrofiados. Sob Mao, homens
e mulheres foram colocados num mesmo nível de importância
na sociedade, mas é preciso dizer que ambos foram escravizados.
Homens e mulheres passaram a ser iguais, mas na submissão.
Folha - Como as mulheres foram escravizadas?
Jung - Antes de Mao, as mulheres não eram livres e tinham
de se submeter às regras da tradição. Mao as libertou
disso, mas também as colocou na lavoura e nos trabalhos pesados,
onde elas nunca haviam sido envolvidas antes.
Durante o Grande Salto para a Frente (1958-1959),
todas as mulheres foram trabalhar, até as velhas, grávidas
e doentes, tanto na lavoura como nas fábricas. O desenvolvimento
da China ambicionado por Mao teve um preço caro às mulheres.
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