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Consumismo invade país
do partido único
Partido Comunista reduz controle no dia-a-dia
dos chineses, permite entrada de influências da
moda ocidental e abala o puritanismo da Era Mao
do enviado à China
E nquanto no universo da ideologia oficial, o
Partido Comunista acelera o retorno a valores da cultura tradicional chinesa
antes rejeitados pelo maoísmo, a onda consumista se apóia
no avanço da ocidentalização. Os chineses comem nas
mais de 200 lanchonetes McDonalds espalhadas pelo país, usam
maquiagem francesa Christian Dior ou japonesa Shiseido e dançam,
em Pequim, sob as luzes piscantes e a música techno da discoteca
Ponto Vermelho.
France
Press
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Chinesa
fala ao celular em rua de Hong Kong
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Em seu cotidiano, os chineses se livraram da quase onipresença
do Partido Comunista, que preferiu limitar sua interferência na
economia e na política.
Nos períodos de maior fervor revolucionário, nos anos 60
e 70, o PC interferia até nos casamentos. Os noivos chegavam a
ter de pedir, para casar, a autorização dos líderes
do danwei (o local de trabalho).
O puritanismo pregado durante a Revolução Cultural (1966-1976,
período de radicalização do maoísmo) dá
lugar a uma revolução nos costumes.
Sexo pré-casamento deixou de ser tabu, e casais se beijam e se
abraçam em público.
Na Revolução Cultural, andar de mãos
dadas com o namorado era visto como costume da burguesia decadente,
conta o comerciante Zhang Xiaodong, 48. Encostado na porta de sua loja
de roupas na rua Sanlitun, região central de Pequim, ele observa
um casal que se abraça.
No centro da capital chinesa, a principal artéria comercial, a
Wangfujing, foi transformada em um calçadão e, segundo as
autoridades municipais, 500 mil pessoas, em média, passam diariamente
por ela. Pequim tem 11 milhões de habitantes.
A Wangfujing serve de vitrine do consumismo e da alquimia capitalismo-comunismo
instalados na China.
Mistura lojas de departamentos do governo, farmácias privadas especializadas
em ervas para a medicina tradicional chinesa, caixas automáticos
de bancos estatais e particulares e livrarias que oferecem obras de administração
e gerenciamento traduzidas do inglês, além de volumes com
discursos de Mao Tse-tung em língua chinesa ou inglesa.
France
Press
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Modelo
chinesa com saia transparente em feira de moda
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Essa mescla também tempera as propagandas.
Na Wangfujing, uma loja de roupas decora a sua entrada com a foto de uma
modelo ocidental, que veste trajes inspirados na moda do Ocidente, mas
carrega um quepe do Exército Popular de Libertação
chinês.
Apesar dessas misturas, no mundo do consumo o peso maior vem de valores
importados do Ocidente. O avanço da ocidentalização
ocorre sobretudo no campo fértil das zonas urbanas, mais abertas
a novas influências. No entanto, cerca de 70% da população
chinesa ainda vive na área rural, um universo tradicionalmente
mais conservador.
Os chineses têm acesso a valores e modas ocidentais, por exemplo,
por meio da mídia de Hong Kong, posto avançado de influências
estrangeiras. Lêem revistas e assistem a programas de TV provenientes
da ex-colônia britânica.
Gosto principalmente dos clips do Channel V (cópia
asiática da MTV), diz Gao Jing, 18. Ela comprava CDs
de música pop chinesa, vinda de Hong Kong, no Yansha, uma das principais
lojas de departamento de Pequim.
Além das influências da ex-colônia britânica,
a Internet é também uma importante válvula de escape
num país em que é proibido recorrer a antenas parabólicas
(estrangeiros e pessoas com autorização do governo têm
direito a esse privilégio).
Segundo dados oficiais, a China conta com 4 milhões de usuários
de Internet, cifra que deve saltar para 10 milhões no próximo
ano. O governo ainda tenta bloquear o acesso a sites considerados hostis
ao regime, como os de grupos de oposição no exílio
e entidades pró-direitos humanos.
As empresas estrangeiras também compõem a maré que
traz modas e tendências de consumo. Abrem lojas sofisticadas, em
shopping centers suntuosos, para vender, para homens, roupa Hugo Boss
e, para mulheres, modelos da Esprit.
A túnica estilo Mao Tse-tung, com o inconfundível colarinho
alto, praticamente desapareceu.
Sobrevive em paisagens rurais e foi substituída, no mundo das empresas
e das instituições governamentais, por terno e gravata.
Na área de fast food, atuam na China, além do McDonalds,
Pizza Hut e Kentucky Fried Chicken. Já há também
versões nativas de comida rápida,
como a Ma Lan Noodle, fundada em 1993 e hoje com 350 filiais.
Em junho, um congresso médico na China atacou efeitos
maléficos da ocidentalização. Acusou
as cadeias de fast food de serem uma das principais responsáveis
pelo fato de 20% das crianças de Pequim serem consideradas obesas,
contra 7% em 1983.
Como outra novidade no cenário social, o governo admite o aumento
da criminalidade. Embora não haja dados confiáveis para
medir o fenômeno, a polícia anuncia com frequência
ofensivas anticrime que visam, principalmente, as redes de prostituição
e de contrabando.
Outra mostra da preocupação em Pequim com segurança:
os táxis têm grades que buscam proteger o motorista de um
ataque do passageiro-bandido. (JS)
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