São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 1999




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CATOLICISMO
‘Então, santo Antônio me falou...’

da Reportagem Local

Netos e filhos ainda não entraram em acordo sobre quantas vezes Gino Bechelli contou as mesmas histórias à mesa, entre goles de vinho e nacos de pão italiano.
Todos concordam, no entanto, que as histórias se resumem assim: quando o acaso favorece o ‘vecchio’ Gino, não há acaso. Há santo Antônio.
Certa vez, Gino _que completa 91 anos em fevereiro_ guiava pela avenida Doutor Arnaldo, na zona sudoeste de São Paulo. Um rapaz vinha de bicicleta à direita do carro. Sem dar nenhum sinal, cruzou a frente do motorista.
“Só não o atropelei porque santo Antônio me falou: ‘Cuidado, homem, diminua a velocidade. O rapaz vai fechá-lo’.”
Falou?
“É, na hora pensei que sim. Foi como se uma voz muito suave, muito calma soprasse perto de meus ouvidos. Acho que falou.”
Também acha que houve “intercessão do santo” quando, em um passeio pela Europa, recuperou o passaporte que esquecera sobre o balcão do aeroporto. Quando viu sarar o filho que os médicos desenganavam. Quando escapou de assaltos na época em que trabalhava de caixeiro-viajante. Quando conheceu a mulher que o acompanha há quase seis décadas. Chama cada um dos episódios de milagre e os relata, dos mais prosaicos aos mais dramáticos, como quem divulga uma epopéia medieval.
A devoção pelo “protetor” nasceu cedo. Criança, Gino morou na Itália, terra de seus pais. Costumava frequentar a igrejinha de Chiozza, pequena aldeia camponesa, e se encantou com um padre missionário que passara por lá.
O sacerdote gostava de recordar, durante os sermões, os milagres de santo Antônio, monge franciscano que viveu entre 1195 e 1231. “Narrava coisas impressionantes, sobretudo para um menino daquele tempo, sem cinema nem televisão.”
Dizia, por exemplo, que o monge conseguira rezar uma missa em Lisboa e, simultaneamente, atuar como advogado do próprio pai num tribunal italiano. Ou que, embora distribuísse pães de uma cesta entre os pobres, a cesta permanecia sempre cheia.
“Desde que escutei os sermões, nunca larguei o santo”, e o santo nunca o largou. É dele a imagem que Gino carrega na carteira. É em nome dele que, todo Natal, ajuda instituições de caridade. E é só por intermédio dele que conversa com Deus nas orações matinais. “Se preciso de uma graça”, explica, “peço para o santo pedi-la ao chefe”. (AA)

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