São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 1999




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JUDAÍSMO
‘Fazemos o filme que Deus já viu’


da Reportagem Local

Faça de conta que você é um cineasta e que hoje, ao acordar, decidiu filmar o seu dia. À noite, quando se deitar, terá produzido um longa-metragem de umas 16 horas _em que, estranhamente, não haverá cenas inéditas: Deus viu todo o filme ontem. “Entenda, não é que Ele assistiu à pré-estréia. Deus viu o filme antes de o filme existir.”
Com lógica surrealista, o advogado Luiz Kignel, 35, adepto do judaísmo, explica “uma das equações mais complexas da natureza”: a convivência entre o poder divino e o livre arbítrio dos homens. “Nada surpreende Deus. Como está acima do tempo e do espaço, Ele sabe quais serão as nossas escolhas, mas não escolhe por nós. Não escreve o roteiro nem dirige os atores. Nós fazemos o filme que Ele já conhece.”
Neto de russos e poloneses, pai de dois filhos, o advogado não se considera um judeu ortodoxo, embora procure seguir as principais normas da religião.
Reza três vezes por dia, não cultua nenhuma divindade além de Deus, consulta rabinos para resolver questões pessoais, submete-se às regras alimentares do judaísmo e não trabalha durante o shabat _descanso obrigatório, que começa no pôr-do-sol de sexta-feira e termina no de sábado.
Confia que, “quando chegar a hora”, Deus mandará um messias, “um homem especial”, para fundar na Terra uma “nova era”, sem sofrimento, em que o mal não existirá. “Vai imperar o amor, e a humanidade optará apenas entre o bom e o melhor. Não haverá mais a morte. Quem morreu ressuscitará. Quem está vivo viverá eternamente.”
Caberão todos no planeta? “Deus dará um jeito.”
Luiz admite, entretanto, que acreditar no messias não o livra do medo de morrer. “A criatura nunca compreenderá perfeitamente as razões do Criador, nunca entenderá a morte. No máximo, conseguirá aceitá-la.”
Ainda que, a princípio, não oriente as escolhas humanas, Deus pode intervir se chamado (e se quiser). “Sua bênção depende de quatro condições: que o fiel pratique o bem, se arrependa dos erros cometidos, reze e não peça nada que prejudique os outros.”
Pedir para passar no vestibular, por exemplo, é legítimo? O aprovado, afinal, tira a vaga de alguém.
“Há muitas maneiras de pedir. Se você solicitar que Deus lhe dê paciência para estudar e se você realmente estudar, concorrerá com aqueles que também estudaram, e entrarão os melhores, porque a vida é assim.” (AA)


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