São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 1999




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ISLAMISMO
‘Tenho anjos sobre meus ombros’

da Reportagem Local

Quando encerra qualquer uma das cinco orações que reza diariamente, Jihad Hammadeh olha, primeiro, para o ombro direito e diz, em árabe: “Que a paz esteja com você”. Depois, volta-se para o ombro esquerdo e repete a frase.
As saudações têm por alvo “os anjos da anotação” _que, segundo o Alcorão, livro sagrado do islamismo, acompanham todos os homens e mulheres desde o nascimento até a morte.
“Para cada ser humano”, explica Jihad, “Allah (Deus) mandou dois anjos, que ficam sempre sobre nossos ombros. O do lado direito anota o que fazemos de bom. O do lado esquerdo assinala nossas más ações”. No dia do Juízo Final, Allah vai julgar a humanidade com base em tais registros.
“Os anjos estão realmente aqui. Não se trata de simbologia. Sei que existem tanto quanto confio em minha própria existência”, afirma Jihad. O historiador de 34 anos pertence a uma família muçulmana de origem síria e estudou religião na Arábia Saudita.
Faz questão de frisar que apenas cumprimenta os anjos. “Não os vejo, não os ouço, não os imagino, não lhes peço nada nem lhes dedico orações. Só podemos cultuar Allah, o deus único. Caso contrário, incorremos em idolatria.”
A tradição islâmica ensina que os anjos surgiram da luz, e os seres humanos, do barro. “Allah criou uns e outros.” Os anjos, no entanto, não dispõem de livre arbítrio. Agem somente de acordo com os desígnios de Deus. “Às vezes, chegam a interferir na vida dos humanos, protegendo-os ou enviando-lhes a morte, mas é por determinação de Allah.”
Vagando sobre a Terra, há também os gênios, criaturas que derivam do fogo. Vêem os homens, embora sejam quase sempre invisíveis. “Em certas circunstâncias, assumem a forma de gatos, cães, serpentes e escorpiões.”
Jihad diz que “os gênios atiçam” _para o bem ou para o mal. Como têm livre arbítrio, podem ou não obedecer a Allah, que os concebeu. “Os gênios sussurram em nossos ouvidos, influenciam nossas atitudes. Sugerem coisas de modo tão sutil que pensamos tratar-se de nossa própria vontade.”
O historiador conta que, há 13 anos, viu um gênio incorporar-se num gato preto. Não entra em detalhes porque a lembrança do acontecimento o desagrada.
E Allah? É possível vê-lo ou representá-lo? “Jamais. Muhammad, o último profeta na concepção do Islã, nos aconselha: ‘Adore Deus como se o enxergasse. Se você não o enxerga, saiba que Ele enxerga você’.’’ (AA)

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