Arte e design se chocam em mostra
Nove metralhadoras, pistolas e fuzis expostos numa parede são parte do arsenal de uma guerra artística que começa hoje na galeria Vermelho, em São Paulo. Vistas de perto, as armas não passam de dobraduras de papel com textura pixelada, copiadas de arquivos 3D de videogames hackeados por artistas.
"As armas são elementos de violência, mas estão num jogo, e isso as torna quase banais", diz Gisela Motta, que assina o trabalho com Leandro Lima. Juntos, eles dividem a galeria com outros 13 artistas na mostra "Looks Conceptual", com obras que se apropriam de objetos e estratégias do design --produção menos conceitual e mais utilitária-- para montar seu discurso.
Em batalha aberta contra o copyright, o coletivo dinamarquês Superflex volta agora à Vermelho (onde realizou uma individual no ano passado) com uma máquina que estampa em camisetas de grife falsificadas a inscrição "Supercopy".
Uma crítica à cópia e à padronização aparece também num vídeo de Nicolás Robbio e Carla Zaccagnini. Sem mostrar o rosto, eles se sentam frente à frente e tentam fazer os mesmos traços, copiando os movimentos um do outro.
"É um pensamento sobre o desenho, uma coreografia sobre algo pessoal, que pode ser padronizado", diz Robbio.
Mergulhando em ácido essa mesma cartilha, os suecos da dupla Goldin+Senneby visitaram o local bucólico na Califórnia onde a Microsoft fotografou a paisagem que usa como pano de fundo de seu principal sistema operacional.
Uma foto do campo sem retoques, acompanhada de um texto sobre a criação de marcas, procura expor o vazio por trás do mundo de céu azul e colinas verdejantes do Windows.
Na série "Objects of Virtual Desire", a mesma dupla reproduz, na vida real, objetos que só existem no Second Life, criados por usuários do site para suprir necessidades em campo virtual: um deles é a "esfera do amor", globo vermelho que faz rodopiar o retrato de um casal de lésbicas que assumiu o namoro on-line.
Decoração na mira
Com bem menos afeto e igual dose kitsch, Los Super Elegantes, a dupla de artistas Martiniano Lopez-Crozet e Milena Muzquiz, trazem o registro de uma performance que fizeram nos Estados Unidos. No vídeo, espécie de manifesto contra o hype, uma decoradora de interiores leva seus amigos clubbers a vandalizar uma casa.
É uma fúria comparável à que Marcius Galan desfere contra o mobiliário quando serra em pedaços uma mesa de jantar e as cadeiras que a rodeiam, deixando só os pés de madeira sobre um tapete verde na instalação "Mata".
São tentativas dos artistas de exorcizar a rigidez que o design pode conferir às relações sociais. João Loureiro constrói uma teia metálica para conectar todos os móveis de uma sala, incluindo sofás, cadeiras e a rede elétrica, que se transformam numa jaula imóvel.
A obra parece acrescentar mais ao discurso do gaúcho Rommulo Conceição, que tem planos de fundir a arquitetura de um supermercado com a de um cinema, e aqui mistura ambientes domésticos na instalação "Sala-Banheiro-Serviço".
Looks Conceptual
Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 16/2
Onde: galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, tel. 0/xx/11/3257-2033)
Quanto: entrada franca
Livraria da Folha
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