"Queria que poesia chamasse mais atenção que chinelos", diz Calcanhotto
Um viscoso caldo da cultura brasileira pode ser ouvido no show "Maré", que Adriana Calcanhotto estréia no Brasil neste fim de semana, no Citibank Hall, em São Paulo.
Tino Monetti/Folha Imagem |
Adriana Calcanhotto canta na estréia brasileira do show "Maré", em São Paulo |
Na noite de estréia, nesta sexta-feira (13), sem presença de celebridades na platéia, a cantora surgiu no palco, de costas, dentro de um vestido vermelho de seda e com os pés calçados em sandálias Havaianas amarelo-ouro. Tudo muito simples e tocante como é a musica feita por ela.
"Queria que prestassem mais atenção na poesia do que nos meus chinelos", disse a cantora à Folha Online, logo após a apresentação, em seu camarim.
Ela confessou ainda se inspirar no amor e na cidade do Rio para fazer sua música. Calcanhotto abriu a apresentação com a canção que dá título ao disco lançado em abril e ao show, "Maré", composta por ela em parceria com Moreno Veloso, filho de Caetano.
Se não há mar na cidade que escolheu para estrear seu novo show no Brasil, o mesmo não pode ser dito do palco que sustenta Calcanhotto e sua banda.
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Adriana Calcanhotto mistura brega e clássico, transformando tudo em boa música |
Azul da cor do mar
O cenário azul de Hélio Eichbauer transforma o lugar em um novo Reino das Águas Claras, aquele que seduzia Narizinho e outros personagens das histórias de Monteiro Lobato. O fundo azul é composto de pinturas sobre véus transparentes, que reproduzem animais marinhos como peixes, golfinhos e cavalos-marinhos, retirados de afrescos da civilização micênica, do século 12 a.C.
Entre conchas diversas dispostas pelo chão, Adriana e sua banda tocam. Ela é acompanhada pelos músicos Bruno Medina (teclados) --que integrou a banda Los Hermanos--, Domenico Lancellotti (mpcs, bateria, percussão, baixo e guitarra), Alberto Continentino (baixo, guitarra, escaleta, vocais e berimbau de boca) e Marcelo Costa (bateria e percussão). Todos parecem entrar no ritmo sereno tão típico de Calcanhotto.
E até o público embarca nessa postura. Diante da voz delicada e marcante da cantora, a platéia se comporta para ouvir sua música, deixando o canto de Calcanhotto em primeiro plano. Quem cantarola junto faz baixinho, para não atrapalhar.
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No show, Adriana Calcanhotto canta nomes como Cazuza, Wally, Gullar e Caetano |
Cazuza e Partimpim
"Mais Feliz", que não está no disco novo, é uma das mais aplaudidas do começo do show. A parceria de Bebel Gilberto e Cazuza é um dos muitos hits da carreira de Calcanhotto. E a dupla dos anos 80 volta em formato de trio em "Mulher Sem Razão", composta por Bebel, Cazuza e Dé Palmeira. O público também fica satisfeito ao ouvir outros sucessos como "Vambora", da própria cantora, "Maresia", de Antonio Cícero e Paulo Machado, e "Fico Assim Sem Você", de Abdullah e Cacá Moraes, sucesso do disco infantil "Adriana Partimpim", de 2004.
Um dos momentos mais divertidos do show fica por conta da canção "Porto Alegre (Nos Braços de Calipso)", cuja letra de Péricles Cavalcanti diz "desde então eu não tive/ nenhum outro vício/ senão dançar/ ao ritmo de Calipso". É divertido imaginar a comportada Adriana Calcanhotto se sacolejando no ritmo dançante.
Fada marinha
Gente de peso na história da cultura brasileira marca presença no show, que tem o momento-homenagem ao poeta tropicalista Waly Salomão, que fez com ela a canção "Teu Nome Mais Secreto", cantada para ele.
Mais um tropicalista, dessa vez Torquato Neto, surge na música "Um Dia Desses", poema de Neto musicado por Kassin. Mais poetas dão as caras, ou melhor, a poesia, no show, como em "Onde Andarás", composta por Ferreira Gullar e Caetano Veloso.
Ao fim do show, Adriana volta para o bis. Canta "Devolva-me", de Renato Barros e Lílian Knapp. Com sua "Maré", que ela chama de segundo álbum de uma trilogia sobre o mar --ela já fez o álbum "Marítimo", em 1998--, Calcanhotto mostra porque, para ela, não há diferenciações entre clássico ou erudito, brega ou tradicional, tanto que toca cuíca e violoncelo no show. Com sua sensibilidade artística ela transforma tudo que toca em boa música. Como uma fada marinha.
Leia entrevista com a cantora.
Maré - Adriana Calcanhotto
Quando: sábado (14), 22h; domingo (15), 20h
Onde: Citibank Hall (av. dos Jamaris, 213, São Paulo; tel. 0/xx/11/6846-6040; classificação 14 anos --com pais ou responsáveis-- e 16 anos --desacompanhados)
Quanto: R$ 60 a R$ 120
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