Luiz Fernando Ramos comenta as principais peças da atriz
Fernanda Montenegro experimentou, durante as cinco décadas em que esteve ativa nos palcos brasileiros, uma variedade notável de gêneros e de parcerias férteis.
Começou com a portuguesa Esther Leão, passou pelas mãos da francesa Henriette Morineau e teve no italiano Gianni Ratto seu verdadeiro mestre. Com ele aprenderia quase tudo, da leveza do vaudeville de "Uma Pulga Atrás da Orelha" de George Feydeau, à politização da arte, de "A Moratória" de Jorge Andrade, ambas em 55. No ano seguinte foi trabalhar no TBC e estreou sob direção de Ziembinski, mas fez também vários espetáculos dirigidos por Alberto Daversa.
Completados os anos de formação ela, o marido Fernando Torres, e os amigos Sérgio Brito e Ítalo Rossi, fundam o grupo dos Sete e convidam Gianni Ratto para dirigi-los. A estréia de "O Mambembe", de Arthur Azevedo, no Municipal do Rio de Janeiro, em 1960, foi um estouro. Encerrada a parceria com Ratto em 65, ela e Fernando Torres prosseguiriam a convivência artística que manteriam até a morte dele, no ano passado. Um destaque dessa trajetória é a montagem de "A Volta ao Lar", de Harold Pinter, em 1967, com direção de Torres.
Em 1970, fez pela primeira vez Beckett, encarnando Winnie na montagem de "Oh! Que Belos Dias" de Ivan de Albuquerque. Em 1972 participou da histórica montagem de Celso Nunes de "O Interrogatório" de Peter Weis e, dez anos depois, reencontrou o diretor em "Lágrimas Amargas de Petra Von Kant", de Rainer Fassbinder.
Em 1986 foi dirigida por Augusto Boal em "Fedra" de Racine, apresentando-se em ginásios para milhares de pessoas. No ano seguinte fez "Dona Doida", monólogo de Adélia Prado com direção de Naum Alves de Souza. Em 1993 não hesitou em embarcar na experimentação radical de "Flash and Crash Days" de Gerald Thomas e, cinco anos mais tarde, na de "Da Gaivota", de Daniela Thomas.
É uma trajetória que impressiona pela qualidade dos parceiros e pela abrangência do repertório. Seu trânsito sem preconceitos das comédias leves à tragédia, e das peças despretensiosas às grandes realizações artísticas, é um exemplo raro de inteligência e honestidade no ofício. (Luiz Fernando Ramos)
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