Salman Rushdie classifica como "terrível" condenação de mulher no Irã
O escritor anglo-indiano Salman Rushdie, uma das atrações da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), classificou de "terrível" e "suspeito" o comportamento do Irã na condenação à morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Ashtiani, por adultério.
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"Eu, como muitas pessoas, estou envolvido no protesto. A [escritora iraniana] Azar Nafisi [que também está na Flip] me disse ontem que agora, de repente, o iranianos estão tentando transformar num julgamento por assassinato, a acusando de ter matado o marido, o que não diziam até anteontem", relatou Rushdie, durante entrevista coletiva hoje à tarde.
"Por causa do clamor internacional sobre a ideia do apedrejamento, agora estão arranjando outro pretexto. É no mínimo muito suspeito que esse assassinato surja agora."
Leticia Moreira - 5.ago.2010/Folhapress | ||
Rushdie falou sobre livro no qual abordará período que viveu com a cabeça a prêmio |
Em 1989, o mesmo Irã promulgou um decreto religioso contra Rushdie, oferecendo uma recompensa a quem o matasse. Motivada por uma interpretação do Alcorão contida no livro "Os Versos Satânicos", a "fatwa" acabou retirada em 1998.
Questionado sobre a interferência da diplomacia brasileira para evitar o apedrejamento de Sakineh Ashtiani, o escritor afirmou: "Claro que ficaria feliz se qualquer nação interferir no caso, que tem que ser resolvido sem que essa pobre mulher seja executada. Se o governo brasileiro puder ajudar, será excelente."
Rushdie é o convidado único da mesa "Em nome do Filho", hoje à noite na Flip.
O escritor lança em Paraty "Luka e o Fogo da Vida" (Companhia das Letras), feito para o filho, Milan, 11 anos, que o acompanha na viagem ao Brasil.
Ele brincou com o fato de o romance estar sendo lançado primeiro no Brasil. "É óbvio que os editores ingleses são mais preguiçosos", disse, aos risos.
A sério, disse achar que o motivo real é que "os editores britânicos e americanos querem publicar perto do Natal, por acharem que é um bom livro para o período. Aqui, a Companhia estava ansiosa para prepará-lo para Paraty. É uma decisão editorial. Mas é bom sair aqui primeiro".
Rushdie falou ainda sobre o livro que está escrevendo com a sua versão sobre a "fatwa" e o período que viveu com a cabeça a prêmio.
"Sempre soube que uma hora escreveria este livro, mas por muito tempo eu não estava preparado para escrevê-lo. Não tinha o distanciamento adequado, não me sentia objetivo, tinha outros livros para escrever antes. Passei os últimos meses coletando material. Tenho os meus próprios diários, mas como tanta gente escreveu a respeito, é importante lembrar o que os outros pensaram e não apenas o que eu pensei."
O autor contou ter escrito de 60 a 70 páginas das cerca de 400 que estima para a obra, que ele prometeu entregar aos editores até o final do ano que vem.
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