Leia entrevista com o diretor teatral Marcelo Lazzaratto
Na comemoração de seus dez anos de trajetória, a Companhia Elevador de Teatro Panorâmico preparou uma programação de atividades intensa no Sesc Santana (veja no site), que acontece entre hoje (11) e o dia 22.
O grupo, dirigido por Marcelo Lazzaratto, 43, reestreia "Amor de Improviso", abre o processo de montagem de "Do Jeito que Você Gosta", de Shakespeare, e promove debates e oficinas.
Ainda neste ano inauguram sua sede na Bela Vista, em outubro, e lançam o livro "Campo de Improviso", em dezembro.
A Elevador conta com 7 atores fixos, além de chamar colaboradores para montagens maiores.
A última delas foi "A Hora em que Não Sabíamos Nada uns dos Outros", de Peter Handke, que o grupo apresentou no parque da Luz e que teve boa recepção no festival de Rio Preto.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Elenco em cena da peça "A Hora em que Não Sabíamos Nada uns dos Outros" |
Leia abaixo trechos da entrevista com Lazzaratto:
FOLHA - São dez anos de trabalho da Elevador. Você acha que a companhia mudou muito de cara neste processo?
LAZZARATTO - Foi um desenvolvimento natural. A gente acabou descobrindo que a gente não tem uma preferência estética específica. É na relação com cada obra que estamos fazendo que começa a aparecer a questão estética. E são peças bem distintas, com processos distintos.
O que une tudo ao longo dos anos é o "campo de visão", que é um exercício de improvisação e de linguagem que eu desenvolvi e que a companhia tomou para si.
E como funciona esse exercício?
O "campo de visão" é muito simples. É um exercício de improvisação que tem uma única regra: você só se movimenta quando algum movimento entrar no seu campo de visão. Com a condução disso, inúmeras possibilidades vão aparecendo.
É uma prática que exercita a relação com o outro, tanto entre os indivíduos quanto entre o individuo e o coletivo. O exercício também desenvolve a noção espacial e amplia o repertório gestual do ator, porque ele sempre tem que se movimentar movido por alguém.
Mas qual é uso específico dele para as peças?
A gente usa ou como elemento para impulsionar o ator e a criatividade ou até como traço estético mesmo.
Em "Amor de Improviso", por exemplo, o "campo de visão" é a a própria linguagem cênica da peça. É um corpo que percebe o momento e consegue construir algo criativo e poético instantaneamente. Por isso a peça vai ser sempre diferente, a cada dia.
Pode-se dizer, nessa linha, que o teatro da companhia Elevador tem uma grande força dos gestos e da corporalidade? Um teatro muito físico?
Não é teatro físico como se usa o conceito, que é algo bem específico, mas tem uma força sim da corporalidade e das atitudes físicas.
O "campo de visão" tem esse exercício com o outro, que apura essa sensibilidade do que fazer com o corpo. Acho que os atores da companhia aprenderam a lidar, a saber o que fazer com esse corpo perceptivo e aberto, construindo sentidos.
E como é o processo de criação e de montagem das peças? É um trabalho colaborativo com os atores?
É um trabalho colaborativo, onde eu sou a figura catalisadora, que acaba dando os direcionamentos. O processo de criação é completamente compartilhado, todo mundo dá opinião.
Mas acho bacana na companhia que a gente reconhece um espaço em que o ator atua, o diretor dirige, o cenógrafo faz cenário... mesmo que eles tenham dado opinião em tudo.
Atores que não colaboram é um saco, mas se tiver essa onda de "atores criadores" que se sentem responsáveis por tudo, também é um saco.
Acho que cada processo vai mostrando como as coisas devem funcionar, e a companhia foi descobrindo o seu jeito com o tempo.
Você disse certa vez: "Num elevador, as pessoas parecem sempre 'entre' o lugar de onde vieram e o lugar para onde vão, nunca estão ali". O que isso tem a ver com o trabalho da companhia? Tem algo a ver com ela nunca querer estar parada?
Se a gente pensar que a arte sempre é processual --e no teatro isso fica mais evidente porque ele só acontece naquele presente absoluto--, então estamos sim, sempre entre uma coisa e outra, nunca parados.
Estamos sempre vindo de um lugar, indo para outro; e no presente estamos aqui, mas de repente já passou.
Então estamos, sim, vivendo a angústia desse "entre", de estar sempre em processo. Acho que mais que angústia, a palavra é inquietação. A gente só consegue estar junto até hoje porque existe uma inquietação que move, que gera a possibilidade do amanhã.
Sobre a inauguração da sede na Bela Vista, qual é a importância de ter um espaço próprio para a companhia?
O Espaço elevador é um passo importantíssimo para a companhia. Ter um espaço próprio faz com que a gente possa desaguar o nosso trabalho sempre que a gente quiser. Foge um pouco daquela questão mercadológica, dando uma autonomia para o grupo. É um processo muito grande para o amadurecimento da nossa pesquisa.
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