Neologismos não trazem prejuízo para a língua, diz Bechara
"Não há prejuízo nenhum para a língua portuguesa. Quando nós fazemos compras no supermercado, também improvisamos nossas abreviaturas." A frase foi proferida hoje de tarde, pelo gramático Evanildo Bechara, durante o encontro "Última Flor do Lácio, Inculta e Bela", na Bienal do Livro, no Rio.
Bechara, que é membro da Academia Brasileira de Letras, dividiu o palco com o jornalista Sérgio Rodrigues, especializado em literatura. Os dois discorreram sobre livros didáticos, ensino público, acordo ortográfico e sobre a presença cada vez mais constante de neologismos na língua portuguesa.
Para Bechara, a maneira de escrever dos jovens, influenciada pela linguagem abreviada da internet, não é nociva. "É um código, assim como temos códigos de vestimenta, com roupas para dormir e para sair. E esses são os códigos para determinado tipo de escrita. Não se aplicam a todas", teorizou.
Sérgio Rodrigues partilhou da opinião: "Minha intuição é de que a linguagem abreviada da internet não prejudica em nada a palavra. Pelo contrário, ela traz de volta a palavra escrita para o centro da vida do adolescente. Minha geração tinha como eixo central a televisão, com a qual temos uma relação mais passiva".
Rodrigues lembrou que os idiomas não são estáticos: "A linguagem é lúdica, ela deve ser apropriada e reinventada. Quando eu tinha doze anos, o grande barato entre meus amigos era colocar 's' no final das palavras, baseado no linguajar do Mussum. E isso nunca prejudicou ninguém".
Para Rodrigues, "quanto mais registros a pessoa dominar, mais apta vai estar a fazer bom uso da língua".
Behcara concordou: "Não existe apenas uma língua portuguesa. Posso falar o português do Brasil, mas posso falar também o português do Estado do Rio de Janeiro, ou diminuir e falar o português da cidade do Rio de Janeiro. Posso simplificar ainda mais e falar do português da Zona Norte ou da Zona Sul do Rio".
O acadêmico concluiu: "A grande função da escola é transformar o aluno em um poliglota em sua própria língua".
Bruno de Lima/Divulgação | ||
Evanildo Bechara |
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