Instituto encaminha representação para a CGU contra uso de conto de Monteiro Lobato
O Iara (Instituto de Advocacia Racial e Ambiental) encaminhou nesta terça-feira (25) uma representação para a CGU (Controladoria Geral da União) contra o uso do conto "Negrinha", de Monteiro Lobato.
Acordo sobre adoção de livro de Monteiro Lobato segue incerto
A história, de mais de 90 anos, narra as desventuras da órfã Negrinha, de sete anos, filha de uma escrava. No conto, a menina sofre torturas e maus-tratos diários de sua patroa, que coloca, entre outras coisas, um ovo quente, recém-saído da água fervendo, na boca da criança e a fecha com as mãos.
Humberto Adami, diretor do Iara, afirmou que o principal motivo para a representação é uma nota de explicação, da própria editora, que acompanha o livro. A nota diz que "não há racismo na obra de Monteiro Lobato".
O livro em que está o conto foi distribuído às escolas entre 2009 e 2010, depois da polêmica com "Caçadas de Pedrinho", também de Lobato. "Não dá para dizer que é mais um equívoco, é um grande erro", diz Adami. Ele afirma que é responsabilidade do ministério fiscalizar os encartes que já vêm da editora.
O MEC não respondeu às afirmações de Adami porque ainda não havia sido notificado sobre a representação.
Arquivo pessoal | ||
O escritor Monteiro Lobato posa para foto em Buenos Aires |
"CAÇADAS"
Também nesta terça, falhou nova tentativa de acordo entre o Ministério da Educação e o Iara a respeito do livro "Caçadas de Pedrinho". Representantes do governo e do instituto --que afirma que o livro é racista-- tiveram uma reunião, mas não houve conciliação.
O livro, publicado em 1933 e distribuído às escolas entre 2003 e 2006, provocou polêmica sobretudo pelo tratamento dado à personagem Tia Nastácia, em trechos como o que a compara a uma "macaca de carvão".
A disputa é alvo de processo no Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria do ministro Luiz Fux. Agora, o curso da ação deve ser retomado, com uma decisão de Fux a respeito da liminar pedida pelo Iara e posterior decisão de mérito.
O instituto pede que o MEC inclua nas obras um encarte em que seja explicado o contexto da obra e trechos alegadamente racistas. Também pede que haja maior capacitação dos professores para a leitura do texto em aula.
Atualmente, há uma recomendação do ministério para que professores contextualizem a obra em aula, explicando conceitos da época, como forma de amenizar o conteúdo do livro. A pasta afirma que vai aumentar a divulgação de um parecer do CNE (Conselho Nacional de Educação) em que há orientações para o manejo de livros com conteúdo preconceituoso.
Para o Iara, as medidas não são suficientes. "De 2 milhões de professores, em dez anos, apenas 69 mil foram capacitados. É um número muito baixo", afirma Adami.
Adami também disse não acreditar que "apenas a distribuição de um parecer" surtirá efeitos nas escolas.
Para o MEC, o parecer do CNE "orienta com clareza os profissionais de educação a respeito de como as obras devem ser sempre mediadas pelos professores e sempre contextualizadas", nas palavras de Cesar Callegari, secretário de educação básica da pasta.
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