Opinião: São Paulo precisa sentir menos medo e dançar mais forró
Quem não se dispôs a tirar os glúteos do sofá para participar de alguma atração da Virada Cultural ficou com a impressão de que, durante a madrugada, São Paulo entrou em estado de sítio: dezenas de arrastões, assaltos e violência nas ruas do Centro.
Os paulistanos intimidados perderam muita coisa. A começar pela melhor atração da Virada este ano: uma banda de heavy metal tocando freneticamente na sacada de um apartamento no largo do Arouche, nos intervalos dos shows oficiais. Inúmeras senhoras que aguardavam a entrada de Sidney Magal acabaram batendo cabeça e bamboleando ao som do misterioso trio.
"Esta música vai para a barraca de yakisoba", gritou o vocalista, emitindo um refrão de urros guturais.
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Quem ficou em casa perdeu também o "palco do bafão", em frente ao Copan, onde um animado público GLS viu atrações de cabaré, dança afro, ópera de monstros, pole dance e apresentações no alto de um guindaste.
Foi lá que o cantor Thiago Pethit convidou o pastor Feliciano a "borrar o batom da minha boca", sob os gritos de "seu lindo!". Duas velhinhas que vieram para ver Agnaldo Timóteo, uma delas brandindo a bengala, não perderam a chance de sacolejar com as músicas de Pethit, que unem rock com chanson française, folk, pop, dance e outros estilos. Havia muitos bebês e uma aglomeração de garis.
"Todo mundo é feliz na virada", exclamou uma moça. Ainda que o show esteja atrasado em quase três horas (como foi o caso do jazzista norte-americano Lonnie Liston Smith) e a única bebida disponível seja uma garrafa de vinho tinto com xarope e fermentado de maçã.
Conforme o tempo passa, sobem os índices de lixo no chão, garrafas de vidro quebradas, gente vomitando e elementos bêbados abordando os passantes, bem como brigas e confusões. Mas crescem também as dancinhas, a cantoria e a alegria sem motivo, como um grupo que se dedicava a fazer voar chapéus e cachecóis sobre uma saída de ventilação, maravilhados com o milagre da levitação.
A "Off-Virada" contou com um baile funk improvisado num canto da avenida Rio Branco (o "Paredão do Juninho"), uma trupe de índios equatorianos tocando flauta na Barão de Itapetininga e dois conjuntos distintos de heavy metal nas proximidades da avenida São João.
As ruas do centro lotadas às três da manhã, o metrô funcionando de madrugada e rappers sambando - a cidade precisa de menos medo e mais forró. Ainda que eu não goste de forró.
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