Opinião: Academia volta a desperdiçar chance de surpreender no Oscar
Todo ano, a Academia de Hollywood tem uma nova chance de contrariar quem a considera —com toda a razão— conservadora, preconceituosa e um tantinho obtusa.
E, quase todo ano, ela desperdiça essa chance. Primeiro, no anúncio das indicações, ao permitir que o lobby dos estúdios prevaleça sobre a singularidade dos filmes.
Depois, nas semanas finais de campanha, ao se revelar muito sujeita, como tantos outros colégios eleitorais, a um estilo de escolha "maria vai com as outras".
Neste ano, o filtro das indicações já restringiu o alcance de "Inside Llewin Davis" e "Blue Jasmine", que bem poderiam preencher a décima vaga da corrida a melhor filme, e esqueceu Paul Greengrass ("Capitão Phillips") entre os diretores.
Mas, jogando apenas com as cartas que estão agora sobre a mesa, os membros da Academia farão muita gente engolir o que diz sobre eles se o vitorioso for "12 Anos de Escravidão".
Produção barata sem participação de grande estúdio (ainda que a Fox o distribua nos EUA), tema fora da curva, diretor estrangeiro em seu terceiro longa (com os anteriores pouco vistos).
Bastaria vencer em quatro —filme,direção, ator e roteiro adaptado— das nove categorias para as quais foi indicado, e "12 Anos..." tornaria atípica a premiação de 2014.
Se o filme de Steve McQueen responde pela esperança de alguma novidade e ousadia na premiação, inclusive com a promessa de discursos mais provocadores, quem manteria a Academia nos trilhos do "nós- já-sabíamos"?
A vez parece ser de "Trapaça", com tema rebarbativo (policiais contra mafiosos e políticos corruptos), elenco estelar, diretor respeitado, prêmios da crítica. Prestígio e "qualidade".
Tudo muito bom, mas daqui a cinco anos ninguém se lembra direito do filme. Você fica até a madrugada esperando por algo surpreendente, e aí vai deitar com a sensação de que deveria ter dormido antes.
Pelos mesmos motivos: nada contra "A Grande Beleza", muito ao contrário, mas seria bem divertido se "A Caça" levasse o Oscar de filme estrangeiro. Um pouco de perturbação no ambiente, please.
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