Meu trabalho é um fracasso, diz artista plástico francês Christian Boltanski
Dois fantasmas espreitam a obra do artista francês Christian Boltanski, que vai expor em São Paulo no próximo mês: o perigo permanente e o caráter aleatório da vida.
Quando nasceu, em 1944, o pai, judeu, escondia-se sob o piso da casa. Os amigos da família eram sobreviventes da perseguição nazista.
"Há sempre um choque psicanalítico iniciático. No meu caso, foi histórico", diz. "Aqueles relatos sobre o Holocausto me marcaram."
Mastrangelo Reino/Folhapress | ||
O francês Christian Boltanski e uma de suas obras em foto de dupla exposição |
Boltanski investigou o fortuito da existência em instalações como "Personne/No Man's Land", em que um braço mecânico escarafunchava uma pilha de trapos (corpos?), erguia um punhado deles e os atirava de volta à vala comum. Cada ser é único, parece dizer, mas a geleia geral de esquecimento e indiferenciação é o fim inapelável.
"Meu trabalho é um fracasso, porque tentei guardar a lembrança das pessoas, lutar contra a morte e, é claro, não consegui", avalia, teatral. "Por outro lado, parece que as coisas continuam... Daqui a anos, haverá outro artista e outro jornalista aqui falando dos mesmos assuntos."
Nesse sentido, a "selva de papel" que Boltanski ergue no Sesc é um ato de resistência da memória, algo para ele tão essencial quanto a comunicabilidade. "Detestaria que, diante de uma obra minha, dissessem: 'Que raios é isto? Como são estúpidos esses artistas de vanguarda!'. Não quero que se sintam enganados."
BOLTANSKI 19.924.458 +/-
QUANDO de 9/4 a 29/6; de ter. a sáb., das 10h às 20h, e dom., das 10h às 18h
ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700)
QUANTO grátis
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