Erro eleva custo de novo museu de história de São Paulo
Todas as manhãs, quando abre a janela de seu quarto em um sobrado no Brás (zona leste), o motorista Octávio Gomes, 71, sente um leve odor de combustível. O cheiro fica mais forte quando o vento vem da direção do imóvel vizinho, a Casa das Retortas, usina de gás construída no fim do século 19, totalmente desativada desde os anos 1970.
Tombado, o conjunto histórico será transformado no Museu de História de São Paulo. Com curadoria do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, o museu pretende contar a história do Estado de São Paulo por meio de cenografias e material interativo.
Previsto para ser aberto em 2011, o projeto não foi inaugurado até agora porque o terreno de quase 20 mil m² está contaminado com resíduos tóxicos deixados pela antiga atividade da usina.
Leticia Moreira/Folhapress | ||
Obras do Museu de Historia de Sao Paulo, projeto do governo do Estado, que era uma promessa para 2011 e ate agora nao saiu do papel. |
A descontaminação encareceu a obra em cerca de R$ 27 milhões, segundo a Secretaria de Estado da Cultura. Quando divulgou o projeto, em 2010, a gestão do então governador Alberto Goldman, sucessor no mandato de José Serra (PSDB), afirmou que o custo do museu seria de R$ 52 milhões –até agora, R$ 57 mi foram gastos.
A nova estimativa do governo é de que a obra totalize R$ 84 mi. Há acréscimos além da descontaminação, que somam outros R$ 5 milhões.
O orçamento é maior do que o do Museu da Língua Portuguesa, inaugurado em 2006 e que consumiu R$ 37 milhões para ser construído (R$ 55 mi, em valores atuais).
Segundo a secretaria, o processo de descontaminação é o principal motivo para o atraso das obras. Agora, o museu está prometido para ser entregue em 2016.
Há cinco anos, um decreto do governo Serra transferiu para a administração do Estado a Casa das Retortas –até então pertencente à Empresa Municipal de Urbanização. As obras do museu foram iniciadas em 2010 e, com as escavações, "surgiu um óleo preto", descreve Pedro Mendes da Rocha, autor do novo projeto arquitetônico.
A obra foi interrompida, e o projeto, modificado: a contaminação impede que sejam construídos no subsolo um estacionamento e um auditório.
Para Mendes da Rocha, esse é um problema recorrente. "Sempre falta assessoria técnica antes de a obra começar. A secretaria deveria ter conduzido um trabalho de gerenciamento que não houve no início do trabalho", diz ele.
A Secretaria de Estado da Cultura afirma que "uma sondagem inicial não detectou a contaminação". Moradores da região, como a dona de casa Jandira Bernardino, 87,que há 30 anos mora a cem metros dali, dizem que o cheiro de gás era forte antes mesmo de as obras começarem.
Outra reclamação dos moradores é de que a construção derrubou muitas árvores do terreno. A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente diz que autorizou a derrubada de 154 delas, sendo nove nativas, com o compromisso de compensação ambiental com o replantio de mudas.
Segundo a secretaria de Cultura, nem todas as árvores foram cortadas; 42 foram transplantadas dentro do próprio terreno, e outras 25 já estavam mortas.
COMPLEXO DA LUZ
No total, cerca de 2,2 milhões de litros de óleos e derivados de petróleo foram removidos, mas ainda restam 14 mil litros a retirar. A Secretaria de Estado da Cultura também divulgou a construção de uma estação de tratamento de águas subterrâneas.
Com o atraso, a gestão do PSDB no Estado chegará ao fim do mandato do governador Geraldo Alckmin sem ter inaugurado duas grandes obras da área de cultura prometidas para a capital de SP.
Também não foi entregue o Complexo Cultural da Luz, previsto para este ano e que consumiu R$ 118 milhões e conta com projeto dos badalados arquitetos suíços Herzog & de Meuron, que fizeram o museu londrino Tate Modern.
Segundo a secretaria, "em virtude da complexidade e envergadura do projeto, estuda-se a possibilidade de realizar uma parceria público-privada para viabilizar a execução das obras".
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