'Leonardo Astrólogo' traz a 'ceia astrológica' de Da Vinci
Ao se juntarem para a derradeira refeição de Jesus Cristo, os apóstolos digeriram mais do que pão, vinho e a traição de um deles. Encarnaram também os 12 signos do zodíaco, num banquete astrológico que Leonardo Da Vinci (1452-1519) marinou em sua obra-prima "A Última Ceia".
A teoria embasa "Leonardo Astrólogo - O Jogo de Símbolos na Santa Ceia". O céu é o limite para que, em 631 páginas, o astrólogo carioca Pedro Tornaghi aponte indícios de que Da Vinci deliberadamente pintou cada discípulo do messias cristão com as características dos postos astrais.
De uma cabeceira a outra, de Simão (Áries) a Bartolomeu (Peixes), os sinais estão lá. Quando retrata Filipe (quarto apóstolo, da dir. para a esq.) de pé e curvado, o italiano alude à quarta casa zodiacal, câncer, segundo o autor. "O caranguejo assume posturas difíceis de serem sustentadas."
Se o leonino não leva desaforo para casa, o apóstolo Tiago Menor reage à traição anunciada por Cristo como afronta direta. Já o dedo em riste de Tomé escancara o espírito crítico de quem quer ver para crer. Clássico virginiano.
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Para Tornaghi, nenhuma pincelada é gratuita. "Frente à anunciação da traição de Judas, Da Vinci pode explorar como cada um dos 12 apóstolos ou dos 12 signos reagiria em um momento extremo."
Judas Iscariotes representa o instintivo Escorpião. Na imagem, ele derruba o sal com o braço direito. Adicionado para preservar o alimento, o elemento criaria a ilusão de eternidade. Derrubá-lo "significa colocar à prova o falso divino e revelar o real", diz Tornaghi.
Para o calendário contemporâneo, Da Vinci nasceu às 22h do dia 23 de abril. Percebe-se. "Como bom taurino, era um homem prático. Bem pago para pintar uma ceia no refeitório de um convento, uniu o útil ao agradável, colocando seu conhecimento na obra encomendada."
Da Vinci foi próximo do astrólogo Paolo Toscanelli, referência na Florença do século 15, e de Sandro Botticelli, que encharcou o quadro "A Primavera" com referências a Áries e Libra, que representam o início da estação florida no norte e no sul, diz o autor. Os astros teriam estrelado mais áreas da Renascença. "Quem ler Hipócrates verá que ele relacionava o mais simples resfriado com a passagem de Saturno por alguma estrela."
O astrólogo Maurice Jacoel ratifica a popularidade da teoria. A própria figura de Cristo no afresco "forma um triângulo perfeito, símbolo de estabilidade". Os primeiros papas, afirma, "eram escolhidos em função do mapa astrológico".
Pop entre astrólogos brasileiros, a tese da "ceia astral" é "um absurdo estúpido" para Martin Kemp, professor em Oxford e considerado a maior autoridade no mundo em Da Vinci. "Leonardo odiava toda essa baboseira mística."
Procuradas, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e a Arquidiocese de São Paulo não quiseram se manifestar.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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