CRÍTICA
Documentário constrói colagem sensível e divertida da vida de Cauby Peixoto
Música brega, romântica, rock, jazz, bossa nova, música popular: todos esses estilos fazem parte da história de Cauby Peixoto. Por eles navega Nelson Hoineff ao conduzir o documentário sobre o cantor, que, desde os anos 1950, com altos e baixos, está na cena musical brasileira.
"Cauby - Começaria Tudo Outra Vez" é uma viagem pelas metamorfoses musicais desse personagem com voz densa e intensa, que pode ser visto como uma tentativa de mistura entre Frank Sinatra, Elvis Presley e Michael Jackson.
Lembrando o pianista norte-americano Liberace, ele veste paletós grandes, com bordados coloridos e luminosos. Essa sua conhecida marca de extravagância é um dos primeiros pontos focados pelo diretor.
Em seguida, vem a questão homossexual. Cauby conta que era "sem vergonha", ia para o mato transar com garotos, gozar. "Era natural", diz. Nos EUA, descobriu o que era ser gay. Depois, fala que começou a "andar direito" e buscou mulheres.
Ultrapassados os pontos sobre o exotismo de vestir e o sexo, o filme abraça a música. Cauby pouco fala. Entrevistados –cantores, familiares, jornalistas, músicos– fazem intervenções compactas, cirúrgicas –indo direto à polêmica, condensando os capítulos da história.
VISUAL
O documentário não se preocupa muito com cronologia nem com o rosário de informações básicas sobre o cantor: onde nasceu, onde morou, com quem se relacionou. Da sua trajetória profissional, pinça momentos: a explosão no rádio, o fracasso nos Estados Unidos, a volta ao Brasil, as oscilações de repertório, a irregularidade no sucesso.
Conta que o jovem Cauby, hoje com 84 anos, foi instruído a extrair todos os dentes para melhorar seu visual.
Trata do marketing de contratar mulheres que lhe rasgassem a roupa no palco, fingindo ser fãs enlouquecidas. Cita a relação tumultuada com um empresário, apontado como responsável por desventuras financeiras.
Mas tudo isso passa ligeiro. O foco é o cantor em ação. Trançando cenas de décadas do artista, o experiente Hoineff faz uma colagem sensível, original e divertida. Sem pressa e sem compromissos amarrados, o filme se deixa levar pela música, muito além de "Conceição". É bom de ver, mesmo para quem não curte Cauby como nossas mães e avós.
CAUBY - COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ
DIREÇÃO Nelson Hoineff
PRODUÇÃO Brasil, 2013, 12 anos
QUANDO em cartaz
AVALIAÇÃO muito bom
Livraria da Folha
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