opinião
Parceria entre Milton e Brant trouxe acaso, mistério e beleza
A parceria entre Fernando Brant e Milton Nascimento não é especial apenas pela beleza de muitas das canções. Também há componentes como acaso, mistério e simbiose.
Brant tinha se formado em direito e trabalhava como repórter quando, em 1966, foi praticamente forçado por Milton a pôr letra numa melodia. Era a sua primeira vez. E o resultado se chamou "Travessia" –por ser a palavra final de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa.
É um tanto casual e muito misterioso que um artista iniciante (Milton) tenha intuído que certa melodia precisava de versos de alguém que jamais escrevera nenhum para ser cantado. E que o acerto tenha sido tamanho.
"Travessia" conquistou em 1967 o segundo lugar do 2º Festival Internacional da Canção e vaga cativa no time das principais composições brasileiras.
Os parceiros compuseram músicas que marcaram profundamente o país entre as décadas de 1960 e 1980: "Sentinela", "Maria, Maria", "Ponta de Areia", "Canção da América", "Nos Bailes da Vida".
Não é leviano afirmar que boa parte da juventude e da intelectualidade nacionais ouvem hoje essas canções com tédio ou desprezo. É como se elas, descoladas do momento histórico em que surgiram, tivessem perdido muito da sua força.
Versos como "Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito" e "Todo artista tem de ir aonde o povo está" já comoveram um país. Se não o fazem mais, é porque mudou o Brasil, e nele certa chave emocional não encaixa tão bem.
A luta de Brant pelos direitos autorais dos compositores também passou a ser vista como obsoleta por ativistas culturais que gostam de ganhar dinheiro, mas não de pagar os outros.
"Porque vocês não sabem do lixo ocidental", diz a letra de "Para Lennon e McCartney", feita por Brant com Lô e Márcio Borges. É um verso perene, assim como os de "Encontros e Despedidas" e de tantas canções que levam a assinatura inesquecível de Brant.
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