Crítica:
'Dois Casamentos' inverte as idealizações sobre matrimônio
Expoente do cinema experimental que floresceu no Brasil entre o fim da década de 1960 e a seguinte, o carioca Luiz Rosemberg Filho passou os últimos 30 anos fazendo curtas e trabalhos em vídeo. O filme "Dois Casamentos" marca sua volta ao longa-metragem.
Da mesma geração de Rogério Sganzerla (1946-2004), Julio Bressane e Andrea Tonacci, Rosemberg ganhou notoriedade junto a uma parte da crítica com filmes provocadores, pouco convencionais na forma, radicalmente poéticos e políticos.
Exemplos como "Jardim das Espumas" (1970), "Assuntina das Amérikas" (1976) e "Crônica de um Industrial" (1978) sofreram com a censura e com dificuldades de distribuição.
Divulgação | ||
Ana Abbott e Patrícia Niedermeier em cena de 'Dois Casamentos' |
"Dois Casamentos" coloca em cena apenas duas personagens, Carminha (Patricia Niedermeier) e Jandira (Ana Abbott). Vestidas de noiva, conversam sobre suas visões em relação ao casamento.
Elas estão em um palco desprovido de cenário, escuro –seria a sacristia ou um manicômio?–, monologando ou dialogando sem parar, à espera do momento de subir ao altar.
Esse espaço despojado e assumidamente teatral dirige a atenção do espectador à palavra, às mulheres que tomam a palavra. A câmera as acompanha girando constantemente em torno delas, numa coreografia a três.
As noivas têm características opostas e pontos de vista francamente divergentes sobre o casamento.
Carminha, a mais velha, é culta e completamente desencantada em relação à referida instituição. A bancária Jandira é uma moça simplória que vê o casamento com uma resignação estereotipada.
Incisiva, irônica e verborrágica, Carminha tem um discurso cheio de máximas que vai além do casamento e aborda aspectos da vida e da cultura contemporânea, a condição feminina, o machismo. Jandira muitas vezes não consegue acompanhar o fluxo de ideias da outra e se fecha.
O tempo vai passando e a espera de ambas se eterniza. Ninguém aparece, nem mesmo os noivos, nada indica que as respectivas cerimônias acontecerão; podemos supor que elas foram abandonadas.
Nessa altura, as duas estabelecem uma comunicação em outra base, menos verbal e mais tátil, libertadora e transgressiva por excelência.
As imagens finais, que mostram cenas de outros casamentos em negativo, invertem o sinal das idealizações que cercam o matrimônio, remetendo a uma das frases de Carminha: "O casamento é uma representação barata da felicidade".
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