CRÍTICA
Vampira ataca homens sacanas e fala persa em atmosfera sufocante
Filmado em preto e branco, nos EUA, mas com diálogos em persa, "Garota Sombria Caminha Pela Noite", de Ana Lily Amirpour, mostra uma vampira solitária (Sheila Vand) que ataca homens sacanas ou desamparados, não raro bandidos.
Ataca porque precisa sobreviver. Afinal, ela se alimenta do sangue de pessoas vivas. Então escolhe aquelas que, segundo seu julgamento, são menos importantes.
Ela vive em Bad City, cidade imaginária iraniana para onde foram todos os indesejados pela sociedade: drogados, traficantes, ladrões, prostitutas.
Como quase todos os filmes autorais contemporâneos, melhores ou piores, mais ou menos conscientes de que ocupam um lugar na história do cinema, este também apresenta conexões com outros cineastas. Neste caso, com David Lynch e Abel Ferrara.
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Cena do filme "Garota Sombria Caminha Pela Noite" |
Lynch, pelo mundo particular, criado unicamente no cinema, e uma atmosfera necessária à afloração do que existe de bizarro e estranho ao redor, além, claro, do tratamento da trilha sonora e de alusões a filmes como "Coração Selvagem" e "Estrada Perdida".
A conexão com Ferrara é mais pontual. Tem relação com o filme que o diretor americano fez em 1995, que aliás é uma de suas obras-primas: "The Addiction", no qual Lili Taylor é uma vampira que precisa encontrar um meio de viver com seu "vício".
Poderíamos dizer que cada época tem o "The Addiction" que merece, dada a superioridade inconteste do filme de Ferrara. Mas "Garota Sombria Caminha Pela Noite", apesar do jeitão Sundance, com suas afetações indies, não é de se jogar fora.
Em primeiro lugar, Amirpour –inglesa de origem iraniana radicada nos EUA– consegue imprimir um tom desesperançado aos seus personagens e às situações em que eles se encontram solitários, mesmo quando acompanhados, pela noite da cidade.
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O ator iraniano Arash Marandi |
Os momentos em que a protagonista encontra Arash (Arash Marandi), jovem problemático a que somos apresentados desde o início, são bons exemplos de direção e criação de atmosfera.
O preto e branco altamente estilizado ajuda tanto nas afetações (pontos baixos do filme) quanto na criação dessa atmosfera sufocante, meio lúgubre em que os personagens estão inseridos.
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