CRÍTICA
'Diplomacia' tensiona diálogos para fazer teatro bem filmado
Teatro filmado. A expressão costuma ser usada para descrever adaptações de peças que no cinema resultam fixos demais ou baseados em excesso na palavra. O veterano diretor Volker Schlöndorff enfrenta o desafio em "Diplomacia", baseado num texto de 2011 do francês Cyril Gely.
O filme reconstitui os últimos momentos da ocupação nazista de Paris, em 1944. Em cena, um duelo contrapõe o general alemão Dietrich von Choltitz e o cônsul sueco Raoul Nordling. Enquanto o general organiza a destruição total da capital francesa, o diplomata tenta dissuadi-lo desse ato antes da retirada.
Toda a ação se concentra no hotel Meurice, palácio parisiense convertido em quartel-general dos alemães em 1940.
Divulgação | ||
O ator Niels Arestrup, que vive o general alemão Dietrich von Choltitz, em cena do filme |
Schlöndorff tira o máximo proveito do tempo, do espaço e da ação para construir um filme baseado no suspense. Além desse efeito superficial de filme de guerra, "Diplomacia" encena também o combate na forma de confronto de ideais e de argumentos.
Von Choltitz representa o militarismo associado ao ideal nazista de superioridade, explícito em sua percepção dos franceses como "bons vivants". A argumentação de Nordling baseia-se no humanismo, o que implica a preservação da capital francesa como um monumento cultural.
Mais que belicismo versus humanismo, a contraposição dos caracteres revela-se aos poucos num diálogo filosófico em torno da ideia de razão.
Na determinação hitleriana de destruir Paris transparece a mesma vontade de extermínio de judeus, homossexuais e a toda a diferença. Mas qual razão justifica tal ódio?
A diplomacia evocada no título e na retórica de Nordling exprime, por sua vez, a racionalidade que resiste à desrazão e não só um jogo astucioso para deter o inimigo.
Por se tratar de uma trama em que a função da ação é representar pontos de vista, Schlöndorff opta pelo reforço da teatralidade, tensionando ao máximo o diálogo e explorando a atuação fenomenal de Niels Arestrup (Von Choltitz) e André Dussollier (Nordling).
O resultado não deixa de ser teatro filmado, ou melhor, teatro muito bem filmado.
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