CRÍTICA
Crônicas de Claudia Tajes fazem rir no divertido 'Partes Íntimas'
Marisa Caduro/Folhapress | ||
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A escritora Claudia Tajes, que lança o livro de crônicas 'Partes Íntimas', em retrato realizado em 2011 |
Nada mais banal do que apontar o cerco que se fecha em torno do humor. No fundo desse lugar-comum, no entanto, há um quê de verdade.
Se no tempo de Cervantes e seu Dom Quixote era aceitável que se usasse o riso como saída eficaz para problemas angustiantes, agora ele parece condenado a prestar contas. O ato de rir de uma piada inofensiva pode gerar críticas à alienação que, ao privilegiar o inócuo, evita as questões mais graves. Haja seriedade.
O humor de Claudia Tajes, presente em romances como "As Pernas de Úrsula e Outras Possibilidades" e "Dez (Quase) Amores", é escrachado, sem receio de soar deslocado ou bobo. "Partes Íntimas - Crônicas e Outros Cortes", novo livro da escritora, segue a trilha aberta pelos anteriores.
O volume reúne textos publicados em jornal, entre crônicas e um punhado de contos. Claudia fala numa prosa despreocupada. Sem afetação. Sem se levar muito a sério.
Os textos sobre a vida doméstica e a infância da autora são os mais interessantes. Ao mesmo tempo em que têm sua graça, levam uma pitada de ternura. É o caso de "O Mais Velho, o do Meio, o Caçula", sobre a dinâmica nas famílias que têm mais de um filho.
Os mais hilários são "Lembranças do Colégio", que resgata a rivalidade entre as crianças, e "Temporada sem Moda", que relembra as roupas que a avó de Claudia costurava para as netas.
Há algo genuíno nesse humor que reconhece as mesquinharias e os divertimentos mais comuns do brasileiro.
Ali estão, com leveza, os percalços reais e imaginários da classe média, desde o desespero de quem não tem notícias do filho que mora longe até a dificuldade de ficar sem o telefone celular. Desde a necessidade de encarar a morte de alguém querido até a epidemia da procrastinação.
CLICHÊ
Nessa concessão aos dramas normais, porém, Claudia pode cair num clichê que já não faz sentido. É o que acontece quando ela ressalta as supostas diferenças entre mulheres e homens, aparentes na quantidade de lágrimas derramadas ou no modo como as amizades são conduzidas. Ou quando emula o sotaque de um nordestino, operador de telemarketing.
Os contos são divertidos, mas não têm o vigor das crônicas. Aqueles compostos apenas de diálogos carregam (confirmada) a influência de Luis Fernando Verissimo, mas sem o tino do mestre. Mesmo assim, lá estão o embate entre casais, do flerte ao rompimento, alguns com referências a Proust ou Machado de Assis.
Partes Íntimas |
Cláudia Tajes |
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"Partes Íntimas" é divertido e não esconde o ritmo tranquilo do caderno menos pretensioso do jornal dominical.
Num tempo em que os ânimos parecem acirrados e polarizados, dificilmente menos do que raivosos, amostras de um cotidiano comum –com o qual o leitor é capaz de se identificar– funcionam como um bem-vindo descanso. Diversão descompromissada que vale duas ou três risadas.
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