CRÍTICA
Material lançado por Bowie entre 1969 e 1973 mostra criação do glitter
Divulgação | ||
Box 'Five Years', de David Bowie |
Em outro momento, a caixa "Five Years" seria assunto para enlouquecer fãs de David Bowie (1947-2016). Mas o box está passando um tanto batido, sem atrair muita atenção, ofuscado por notícias mais impactantes.
Primeiro, pelo lançamento quase simultâneo ao último álbum do cantor, "Blackstar". Depois, por sua morte, no último dia 10. Agora, após tudo o que foi falado sobre o legado de Bowie, pode ser interessante escutar exemplos concretos de sua genialidade.
"Five Years" está repleta desses exemplos. A coletânea contempla seus discos entre 1969 e 1973. Esse período inclui os álbuns "David Bowie" (1969, lançado também com o título "Space Oddity"), "The Man Who Sold the World" (1970), "Hunky Dory" (1971), "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars" (1972), "Aladdin Sane" (1973) e "Pin Ups" (1973).
De certa forma, podem ser considerados a primeira fase de seu trabalho, porque o disco que ele lançou em 1967, com seu nome no título, é praticamente um "filho ilegítimo". Reunia canções de compactos que Bowie gravou sem rumo certo, muito jovem, aceitando sugestões pouco criteriosas de gente que o acompanhava na época.
A partir do álbum de 1969 —e principalmente a partir da canção "Space Oddity"—, ele iria formatar o glitter, um momento espalhafatosamente criativo do rock. Embora fosse o timoneiro, não fez tudo sozinho. Correndo por fora, o inglês Marc Bolan (1947-1977) e o americano Alice Cooper ajudaram bastante.
As músicas do Bowie ainda iniciante são sensacionais. Rock, sim, mas já empanturrado de referências de jazz, vaudeville, música de cabaré e um pouco de progressivo.
Em termos de comportamento, o glitter e sua androginia foram bem definidos pelo músico Gary Kemp, da banda Spandau Ballet, numa entrevista reproduzida em vídeo na exposição sobre Bowie montada no ano passado no MIS de São Paulo: "Ele borrou as linhas limítrofes entre o masculino e o feminino".
Os álbuns estão em versões remasterizadas pelo próprio Bowie, trabalho que ele fez em 2003, 2012 e 2015. A caixa tem livro, dois discos ao vivo, outros dois reunindo singles e versões inéditas, e um CD alternativo de "Ziggy Stardust", com remixes.
O mais impressiona é perceber que esse material tão deslumbrante é só uma parte do legado de David Bowie.
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