SEMANA DA MODA DE PARIS
Numa Paris melancólica, desfiles fazem reavaliação de sistema
Paulo Troya e Renan Teles/Folhapress | ||
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Desfile de inverno 2017 da grife Issey Miyake, apresentado na sexta (4) |
Paris está cinza e fria. Há pouco movimento nas lojas e alguma coisa parece fora do lugar. Na primeira metade do calendário da semana de moda de Paris, a melancolia após os ataques terroristas na cidade pareceu potencializada pelo Exército na porta dos desfiles, a polícia nas esquinas e, como esperado, na passarela cheia de referências ao momento de reavaliar o sistema.
A passarela da Dior para o inverno de 2017 foi o grande exemplo. A grife desfilou uma releitura de seus últimos anos em um dos prédios do Museu do Louvre. A coleção foi a primeira após a saída repentina do belga Raf Simons do comando criativo da marca, notícia que balançou a indústria e desencadeou incertezas quanto ao modelo frenético de lançamentos sazonais de coleções. A Dior se esforçou para mostrar uma coleção digna para o varejo.
A herança de alfaiataria precisa de Simons esteve logo nos primeiros looks. A jaqueta "bar", clássico do "new look" criado por Christian Dior no final dos anos 1940, foi composta de uma saia e um top de cetim preto. Preto, a cor do luto no ocidente, nunca esteve tão em voga por aqui.
Crepe, cetim, lã e cashmere receberam aplicações de pedras, estampas de bicho e diferentes modelagens, como se a intenção fosse vestir todo tipo de corpo e gosto feminino.
O truque de styling dessa temporada são várias míni bolsas amarradas no tronco, sejam presas ao pescoço - como foi mostrado pela grife Loewe - ou a tiracolo, elas representam o conceito de "andarilho urbano".
É como se tudo o que as pessoas possuem coubesse em pequenos relicários. No caso das Dior, essas bolsas são adornadas com couros exóticos e brocados.
Segundo a equipe à frente do estilo da marca, para aguentar a estrada esburacada e "dominar territórios" da "floresta urbana" é preciso conforto e movimento.
Não há roupas justas demais nessa coleção, mas sim casacos e vestidos descolados do corpo. A sensualidade surge em pequenas frestas de pele, em ombros descobertos -tendência para o próximo inverno- e nos pedaços das pernas à mostra.
SILHUETA AMPLIADA
As proporções maximizadas também dão o tom da passarela da grife Issey Miyake, que mais uma vez mostrou um trabalho vanguardista de tecidos tridimensionais. Dessa vez, o plissado característico da marca surge ondulado e em formas elípticas nos conjuntos de calça e blusa e nos vestidos amplos.
Ao stretch, matéria-prima de toda a coleção, foi adicionada uma camada de cola que, quando aquecida, possibilita o efeito mola das roupas.
Uma imagem largada permeia a proposta da grife, com destaque para as peças construídas com barras assimétricas. A noção de roupa de viajante, ou "easy rider", como a moda instituiu chamar esse conceito de liberdade aplicado ao estilo, é um emblema dessa temporada.
É tudo luxuoso, confeccionado com esmero, mas não deixa de transparecer o espírito decadente, desconexo e quase sem emoção que teima em rondar os desfiles e as ruas de Paris.
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