Grunge e punk são inspirações de grifes tradicionais em desfiles de Paris
Na cartilha da semana de moda de Paris a transgressão sempre esteve ligada às "loucurinhas" estéticas das grifes. Agora, para as marcas do calendário local, que terminou na quarta (9), transgredir significa revirar o próprio baú de referências e oferecer peças utilitárias, comerciais e jovens, com espírito "do contra" e descompromissado com os velhos códigos de beleza.
A atitude rebelde descambou numa onda "street" cujas principais fontes de estilo foram o grunge dos anos 1990, o punk do final dos anos 1970 e os excessos da década de 1980.
Todas essas inspirações receberam uma capa de glamour, traduzida em tecidos nobres, metalizados e em referências ao romantismo dos anos 1950. Não há, porém, resquícios de doçura nessa matemática.
A Miu Miu, uma das últimas a desfilar seu outono-inverno 2016/2017, reelaborou o sentido de diva hollywoodiana com uma série de jaquetas jeans, peça do uniforme jovem, que recebeu estampas de animais fofos gravados.
Ao mesmo tempo, a estilista Miuccia Prada brincou com os sentidos ao inverter a lógica "street" da nova coleção em blocos inteiros de capas feitas em tapeçaria nobre. Nos ombros, brocados majestosos.
Essa oposição entre extravagância e normalidade também deu o tom da passarela da Louis Vuitton. Peças esportivas se misturaram ao brilho das calças de couro, às referências ao motocross e às pinceladas oitentistas.
O estilista Nicolas Ghesquière criou jaquetas, suéteres e toda sorte de blusas descoladas do corpo com contorno geométrico, herança do seu trabalho na grife Balenciaga. As botas pesadas amarradas com cadarços formam o look rebelde esportivo da marca.
Isabel Marant, que sempre pendeu para o estilo "boho" dos anos 1970, colocou xadrez, maquiagem pesada e estampas animais na passarela punk rock dessa estação. Há desde a combinação clássica de preto e vermelho das blusas de flanela que viraram moda nos 90 até os vestidos de ombro só dos 80. É roupa de boate e de rua num desfile só.
Roupa de noite como as criadas por Hedi Slimane para a Saint Laurent, com uma saraivada de brilho, paetês, ombros largos e alfaiataria acinturada típicas da obra de Yves Saint Laurent, mas com seu habitual verniz roqueiro.
Até a Chanel, ícone das madames parisienses, flertou com grunges e punks em um look xadrez básico –no meio dos colares de pérolas. Decadência com elegância, como diz a expressão francesa.
Esse reposicionamento de imagem, muito mais colado à roupa comercial, é um caminho sem volta na tradicional indústria francesa. Num momento em que se discute o papel do desfile, os designers estão preocupados em criar desejos imediatos, despertar o interesse pela roupa pouco antes de ela chegar à vitrine.
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