CRÍTICA
Paul Vecchiali aborda o lado amargo e cruel do amor
Os mais românticos que escolhem o filme pelo título devem estar atentos: "É o Amor" pode estragar a noite a dois.
O longa francês dirigido pelo veterano Paul Vecchiali não se enquadra nas ideias convencionais de cinema romântico, pois começa e termina desmontando a crença de que o amor é lindo. Casais héteros em crise, gays iludidos e velhos que amaram demais e, no fim da vida, ficaram solitários são algumas das situações que Vecchiali põe em cena.
O diretor tem uma obra extensa marcada pelo espírito romanesco e, na contramão de uma certa tendência do cinema francês, sempre preferiu fazer filmes sentimentais. O que não quer dizer que seus filmes não contenham o lado cruel das relações amorosas.
Reprodução | ||
Cena do longa 'É o Amor' |
A primeira cena mostra como o cineasta se aproxima dessa experiência sem reduzi-la aos clichês. Estamos diante de uma clássica discussão de relacionamento. O marido chega tarde, a esposa está zangada e começa um longo diálogo em que ela o acusa e ele nem compreende por que deve se sentir culpado.
No cinema tradicional, veríamos quem fala, muda-se o ângulo e passaríamos a ver o interlocutor, num pingue-pongue visual que também capta as reações da escuta.
Vecchiali desvirtua esse formato. Sua câmera registra os mínimos gestos do marido, enquanto escutamos as queixas da esposa, à qual só ouvimos. Ao final, a cena é revista do ponto de vista dela.
Ao assistirmos à cena de outra perspectiva, se desvela a ideia de metade contida em todo casal. Como a fala é a mesma, a cena capta como as razões e as sensibilidades se desencontram e, no fim, parecem mais reais do que nos filmes que simulam a harmonia.
Em momentos, "É o Amor" derrapa na típica verborragia do cinema francês. Apesar dos desequilíbrios, o longa mostra como a vitalidade de Vecchiali, aos 85 anos, alimenta-se do sonho de um cinema libertário e libertino que segue contra a corrente.
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