crítica
Com feminismo e corrupção, 'Zootopia' politiza fábula infantil
De "O Poderoso Chefão" a "Breaking Bad", são diversas as referências a filmes de cinema e a seriados de TV em "Zootopia - Essa Cidade É o Bicho", o recém-lançado produto da Disney nas gôndolas do mercado.
A Disney tem crianças como clientes preferenciais, certo? "O Poderoso Chefão" e "Breaking Bad" estão nas gôndolas dos adultos, confere? Então, o que fazem "contrabandeados" ali?
Elementar: o conceito de diversão que orienta o império criado por Walt Disney envolve narrativas que difundem certos valores ("de família"), mas que também se voltam para o consumo de diferentes gerações.
Estejam tranquilos, caros pais, tios, avós e padrinhos simpáticos que ainda levam crianças ao cinema nesta era de intenso consumo doméstico de imagens: ver "Zootopia" não equivale a uma condução coercitiva.
Pense em algum dos temas mais candentes do momento, como feminismo (alô, Fernanda Torres!), corrupção (alô, avenida Paulista!) e oportunidades iguais para todos (alô, "Que Horas Ela Volta?"!).
Pois eles estão todos no filme, alinhavados em torno de uma fábula sobre a cidade do título, em que animais de diversas espécies, sejam eles predadores ou presas, convivem em suposta harmonia.
PROTAGONISMOS
Essa megalópole de utopia criada pela Disney –resultado do trabalho de quatro produtores, três diretores e oito roteiristas– lembra, no entanto, os conglomerados urbanos distópicos do século 21.
Quem nos guia por suas ruas às vezes perigosas? De acordo com a antiga e bem-sucedida tradição de filmes e seriados adultos, um agente da polícia. Mas, sinal dos tempos, a protagonista é uma mulher em um universo restrito a homens.
Mulher? Bem, ela é uma coelha (xô, "Playboy"!). Pequena, frágil e um tanto ingênua, mas inteligente, determinada e... veloz. A primeira oficial-coelha de polícia de Zootopia!
Em seu caminho, aparecem uma raposa pilantra (na verdade, um "raposo" –é macho) e uma investigação misteriosa sobre animais desaparecidos –todos, talvez não por coincidência, da família dos predadores.
A partir daí, a trama evolui até os bastidores do funcionalismo público (a melhor piada do filme tem a ver com servidores) e do poder na cidade, acrescentando ação e suspense à base inicial de humor.
IRONIAS SOCIAIS
E as crianças? Enquanto as maiores poderão perceber as ironias sociais, as menores tendem a se deixar levar pela natural atração por animais que falam e se comportam como se fossem seres humanos.
Em tempo: Shakira, outro produto de consumo para toda a família, canta a música-tema, "Try Everything" (experimente tudo).
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