Crítica
Remake é alívio em tempos hiperestimulantes
Difícil digerir as primeiras cenas de "Meu Amigo, o Dragão", remake do clássico da Disney de 1977. Mas, passado o impacto inicial, o filme se revela uma experiência cativante, muito prazerosa ao olhar inocente das crianças e exigente dos adultos.
Um grave acidente de carro resulta na morte dos pais do pequeno Pete (Oakes Fegley), que se vê sozinho em uma floresta sombria.
A agonia do órfão –e do público– só diminui quando ele encontra uma criatura verde, gigantesca, peluda e cheia de magia.
A empatia é instantânea. Tanto por parte do garotinho quanto daqueles que estão sentados do outro lado da tela.
Batizado de Elliot, o dragão –uma mistura de Sulley, de "Monstros S.A." (2001), com Falkor, de "A História Sem Fim" (1984)– vira o fiel escudeiro de Pete, e os dois passam a viver juntos no interior da floresta por longos anos.
Até que seus caminhos se cruzam com o de Grace (Bryce Dallas Howard), uma guarda florestal que tenta reinserir o garoto na sociedade e que, embora tenha crescido ouvindo lendas de dragões de seu pai (Robert Redford), não acredita na existência desses seres mágicos.
Em relação à obra original, a versão 2016, dirigida por David Lowery, traz algumas mudanças. Sai a vila de pescadores e entram as deslumbrantes paisagens da Nova Zelândia.
A decisão logo se mostra certeira –aliados à iluminação, os cenários rendem uma fotografia de deixar o queixo caído. Do ponto de vista do conteúdo, o remake excluiu a problemática família adotiva do protagonista.
Aliás, vale destacar o desempenho de Oakes Fegley. Dono de olhos expressivos e habilidades incomuns a um ator de 11 anos, ele é um dos responsáveis por tornar o longa da Disney tão carismático.
Outro ponto positivo: contar a história do órfão e de seu companheiro peludo sem muito barulho, sem pressa, respeitando o ritmo de uma fábula. Nesse aspecto, serve de alento aos nossos sentidos, que costumam sofrer com o excesso de estímulos característicos a produções destinadas às crianças.
Com uma narrativa cadenciada, alheia a reviravoltas mirabolantes, "Meu Amigo, o Dragão" mostra que, para agradar, filme infantil não precisa ser uma montanha-russa, frenético do começo ao fim. Pelo contrário. É possível encantar também nos intervalos, nas pausas e no silêncio.
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