Crítica
Filme 'Os Pobres Diabos' tem firmeza de propósitos
Divulgação | ||
Membros do Gran Circo Teatro Americano, retratado em 'Os Pobres Diabos' |
OS POBRES DIABOS (BOM)
ELENCO: Sâmia Bittencourt, Sílvia Buarque, Gero Camilo
PRODUÇÃO: Brasil, 2013, 12 anos
DIREÇÃO: Rosemberg Cariry
Veja salas e horários de exibição.
*
Uma Santa Ceia com tapioca e café. Esta é a cena mais emblemática de "Os Pobres Diabos", lá pelos dez minutos do filme, quando assistimos à chegada do circo a uma cidade do interior. Imaginem: no centro da mesa, o chefe. Ao seu redor, os artistas. Do lado de fora, o sertão.
E não pensem que o chefe despreza "a arte" ou "o povo". Não é o estereótipo do capitalista obeso, não fuma charutos, não coça a barriga. No roteiro do diretor Rosemberg Cariry, toda a trupe do Gran Circo Teatro Americano luta em prol da beleza artística.
O grande fascínio estaria nesse resumo. Olhar os palhaços, a cantora, o bufão, a menina que se inicia como mestre de cerimônias. Eles impactam o mundo por sua simples presença, embora sofram com a falta de dinheiro.
Mas surgem as perguntas. Quem é "o povo"? Alguém sabe de antemão do que ele precisa? Ouvimos diatribes sobre batalhar pelo sonho –o equivalente a "descolar um show", nos anos 1980, como em "Bete Balanço" (1984).
Acontece que, na era da diversidade, o Gran Circo pode não suprir o desejo local. Interioranos são múltiplos e talvez queiram outras coisas, distantes da literatura de cordel e da imagética de Lampião.
"Boi Neon" (2015), de Gabriel Mascaro, demonstrou a quebra de expectativa entre o rural e o urbano. O próprio Rosemberg consegue jogadas inesperadas em "Os Pobres Diabos", ao trazer o roteiro para dentro do roteiro. A certa altura, os artistas do circo parecem eles próprios personagens de cordel, levando a trama a um ponto acima.
Para quem quiser desfrutar do lado aventureiro, surge logo um "Bye Bye Brasil" (1979) na mente –a caravana Rólidei lutando contra tudo–, ou um "Gargalhada Final" (1978) –doce, felliniano, centrado na relação do palhaço pai com o palhaço filho.
No entanto, Rosemberg Cariry se filia a outro cânone: o do Nordeste profundo, metáfora para momentos tão diferentes quanto "O Cangaceiro" (1953), "Baile Perfumado" (1996) ou "Corisco & Dadá" (1996), este do próprio Cariry.
Entre erros e acertos, "Os Pobres Diabos" oferece uma firmeza de propósitos que, no entanto, precisa vencer a catequese. Quando a vence, alcança bons momentos.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade