Romances de Mário de Andrade ganham versões desiguais
Divulgação | ||
Adaptação para quadrinhos do romance "Amar, Verbo Intransitivo", com ilustrações de Eloar Guazzelli |
AMAR, VERBO INTRANSITIVO (regular)
AUTORES Ivan Jaf e Eloar Guazzelli, baseado no livro de Mário de Andrade
EDITORA Ática
PREÇO R$ 45,50 (104 págs.)
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MACUNAÍMA (muito bom)
AUTORES Rodrigo Rosa, baseado no livro de Mário de Andrade
EDITORA Ática
PREÇO R$ 45,50 (88 págs.)
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As obras do escritor Mário de Andrade (1893-1945) entraram em domínio público em 2016. Chegaram nos estertores da sanha editorial pelas adaptações de literatura para quadrinhos, motivada pelas compras do governo federal para bibliotecas públicas. O estímulo federal acabou, e agora espera-se que o gênero das adaptações se sustente pelas próprias pernas.
São os dois únicos romances de Andrade, "Amar, Verbo Intransitivo" (1927) e "Macunaíma" (1928), que ressurgem em versão HQ. Tal como são distintos na prosa, ganharam adaptações bastante distintas, de estilo quase antagônico, nos quadrinhos.
"Amar, Verbo Intransitivo" centra-se em Elza, jovem alemã contratada para ser governanta e professora dos filhos da abastada família Sousa Costa. Na verdade é um plano do patriarca Felisberto, que quer a iniciação sexual do primogênito, Carlos, com a professora.
Criticando os costumes da elite paulista de cem anos atrás com boa dose de irreverência e almejando certo escândalo, o livro faz um estudo íntimo dos personagens principais. O narrador é o próprio Mário de Andrade, que se permite apartes para comentar gramática e sociologia ou fazer gracejos quanto à trama.
Andrade também ganha suas páginas –desde a capa, aliás– como personagem na versão em HQ, assinada por Ivan Jaf (roteiro) e Guazzelli (arte). O quadrinho também centra-se em recordatórios e balões de pensamento para encontrar o íntimo de Elza, Felisberto e Carlos.
Na fidelidade ao livro, contudo, pesa negativamente a pouca atenção a expressões faciais e linguagem corporal dos personagens. Muitas vezes estáticos por longas sequências, falando ou pensando no linguajar preservado da prosa, decisão que gera seções arrastadas. É como um filme com atores preguiçosos.
Por outro lado, nas páginas sem palavras –tal como a de Carlos notando as pernas da professora no jardim – ou no movimento sutil da cena da família no trem, o álbum alcança sua devida expressão como quadrinho.
Na contramão do estatismo de "Verbo Intransitivo", "Macunaíma" é ação e movimento. A aventura folclórico-fantasiosa-indígena sobre o herói sem caráter –já adaptada duas vezes para quadrinhos e bem conhecida na versão para cinema– é tratada como tal na adaptação de Rodrigo Rosa, que assina roteiro e arte.
Rosa tomou, em primeiro lugar, uma decisão audaz: no traço, Macunaíma vira praticamente um gibi infantojuvenil, cruzando o estilo "narigudo" da franco-belga Escola de Marcinelle –que rendeu Asterix, Smurfs e outros– com as estilizações dos brasileiros Henfil e Canini. O resultado lembra alguma revista que se encontraria em banca no Brasil nos anos 1970.
Macunaíma |
Mario de Andrade, Rodrigo Rosa |
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As cores, porém, não são os tons primários dos gibis, mas uma paleta tropical-terrosa inspirada em Tarsila do Amaral.
O texto, assim como na versão original em prosa, segue o português do início do século 20, com gírias e termos indígenas dentro de grafia e gramática particulares a Mário de Andrade.
Diferente de "Verbo Intransitivo", onde a adaptação pena para tomar o ritmo de HQ, "Macunaíma" é sobretudo uma HQ que se vê invadida pela fábula delirante de Mário de Andrade.
Livraria da Folha
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