Narrativa de 'Polícia Federal' é plausível, mas assume um ponto de vista
Os delegados da Operação Lava Jato que assistiram à première do filme "Polícia Federal - A Lei É para Todos" saíram satisfeitos do cinema.
Protagonistas do thriller policial, eram unânimes em afirmar que, apesar de exageros aqui e ali, o filme estava muito próximo da realidade.
De fato, os principais fatos condutores do enredo, inspirado na maior investigação recente do Brasil, foram baseados em documentos oficiais e relatos dos próprios policiais, que cooperaram com a produção.
A PF emprestou a sede da superintendência em Curitiba para as filmagens. A equipe visitou a carceragem e teve acesso a imagens das operações. Quando possível, procurou reproduzir literalmente as falas dos envolvidos.
Em alguns momentos, o filme ganha contornos de documentário, reproduzindo notícias de jornais e até um pronunciamento da ex-presidente Dilma Rousseff, sobre a nomeação de Lula como ministro, em março de 2016.
Nem tudo, porém, é exatidão. O próprio diretor, Marcelo Antunez, admite que "adicionou uma camada de roteiro" à realidade. O objetivo, diz, foi contar uma história da maneira mais palatável, emocionante e interessante possível.
Aí entra a licença poética. A apreensão de um caminhão carregado de cocaína, ligado a um dos doleiros investigados no início da Lava Jato, não teve troca de tiros. O doleiro Alberto Youssef não tentou escapar da prisão, como retratam, com dramaticidade, as primeiras cenas.
A PF descobriu que a família de Paulo Roberto Costa destruía documentos, mas não encontrou um extrato bancário da Suíça na churrasqueira.
Mesmo declarações literais, como na cena da condução coercitiva do ex-presidente Lula, foram editadas e encurtadas.
Polícia Federal - A Lei É para Todos |
Carlos Graieb e Ana Maria Santos |
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O longa também tem alguns lapsos temporais, como a formação da força-tarefa no Natal de 2013 (ela só ocorreria no ano seguinte) e a prisão de Paulo Roberto Costa no dia do 7 a 1 contra a Alemanha (ele foi preso um dia antes do início da Copa). O erro mais evidente foi exibir a placa do Ministério Público Estadual do Paraná, em vez do Federal.
O enredo também procura abordar algumas das controvérsias em torno da operação. No filme, uma jornalista pergunta com insistência: "Por que vocês estão tentando destruir o PT?". Os próprios investigadores discutem, entre si, quem vai tomar o lugar dos políticos denunciados, e "com quais interesses". Um dos delegados tem, no filme, um pai defensor do PT, que chega a afirmar que o filho "está sendo seletivo".
São discussões presentes na realidade. O risco é que a crítica pareça caricatural, diante da aura criada em torno dos protagonistas. Afinal, são eles que conduzem a narrativa. Resta ao público avaliar qual leitura dos fatos prevalece ao final de duas horas.
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