Descrição de chapéu Artes Cênicas teatro

Peça 'País Clandestino' reúne pessoal e político

Trabalho autodocumental foi concebido por diretores de cinco nacionalidades

MLB
São Paulo

O brasileiro Pedro Granato, a francesa Maëlle Poésy, o argentino Jorge Eiro, a espanhola Lucía Miranda e a uruguaia Florencia Lindner se conheceram em Nova York durante um curso para diretores no Lincoln Center, em 2014.

Além do ofício, tinham em comum a língua (são fluentes em espanhol) e a condição de estrangeiros naquele país.

De volta a suas casas, seguiram se encontrando, virtual ou pessoalmente, e a afinidade fez nascer um trabalho conjunto: "País Clandestino", que terá sessões a partir desta sexta-feira (9) na MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.

Trata-se de um espetáculo autodocumental que reúne experiências pessoais e os contextos político e social dos últimos três anos. "Uma das coisas que tinham nos unido lá atrás [em Nova York] foi discutir o mundo", afirma Granato. "E a gente queria falar [na montagem] desses acontecimentos."

Fatos como o processo de independência da Catalunha, as eleições presidenciais francesas do ano passado e o impeachment de Dilma Rousseff marcaram as discussões, feitas virtualmente e durante residências do quinteto em Madri e em Buenos Aires.

"Me irrito quando alguém do meu país se cala. Estou marcada pelo silêncio", diz uma delas em cena. "Vivo em um país que se esquece de onde vem", continua outra.

ÍNTIMO

"Mas peça é muito íntima também. As questões políticas estão embebidas das pessoais", diz o brasileiro. Como a morte de seu pai, o artista plástico e performer Ivald Granato, em 2016, fato explicitado em cena --"isso teve um efeito muito forte em nós cinco". Ou a preocupação com Poésy quando souberam dos ataques terroristas na França.

O resultado estende a intimidade para a relação com a plateia e mescla as linguagens distintas dos diretores. "Na criação, houve muita contaminação. A peça é uma construção de diversos procedimentos", conta Granato.

Há momentos mais claramente documentais, com projeções de fotos e vídeos, e outros imaginados, como a cena de uma roda de conversa fictícia, mas bastante verossímil, entre os cinco.

Quase tudo é falado em espanhol, língua em que os criadores se comunicam, porém o francês e o português também dão as caras aqui e ali.

"País Clandestino" estreou no ano passado no Fiba - Festival Internacional de Buenos Aires e depois passou pelo Chile. A cada local, questões mais latentes daquele território acabam ganhando força.

No Brasil, explica Granato, assuntos nacionais terão mais peso. "Lá fora eu trabalhava com a visão que as pessoas têm do Brasil, desse olhar alegre sobre o país. E ao longo do espetáculo eu quebrava isso. Vai ter um tom um pouco diferente quando falar para os próprios brasileiros."

 

PAÍS CLANDESTINO

QUANDO sex. (9) e sáb. (10), às 21h, dom. (11), às 18h

ONDE Teatro Cacilda Becker, r. Tito, 295, tel. (11) 3864-4513

QUANTO R$ 30

CLASSIFICAÇÃO 14 anos

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.