Descrição de chapéu festival de cannes

Filme de iraniano preso critica provincianismo do país em Cannes

Jafar Panahi foi condenado por fazer propagando contra o governo e está servindo pena em prisão domiciliar

Coletiva de imprensa do filme "3 Faces", com presença das atrizes iranianas Behnaz Jafari e Marziyeh Rezaei, o diretor de fotografia Amin Jafari, o editor do filme Mastaneh Mohajer e o moderador Jean-Michel Frodon. A cadeira do diretor Jafar Panahi permaneceu vazia: o iraniano cumpre pena por fazer propaganda contra o governo de seu país. AFP/Laurent EMMANUEL

Cannes (França)

Quem esperava que "3 Faces", do diretor Jafar Panahi, fosse se provar uma farpa direta contra o governo iraniano saiu algo frustrado da exibição do filme, neste domingo (13), no Festival de Cannes. Ainda assim, o longa encontra seus modos de incomodar a cultura local.
 
Entre os cineastas, Panahi é o mais conhecido crítico ao regime do Irã. Em 2010, ele foi condenado a seis anos de prisão domiciliar e a ficar 20 anos sem filmar sob a acusação de fazer propaganda contra o governo.
 
Sem permissão para viajar, ele não apresentou o longa em Cannes. Na tarde de domingo, durante a conversa com a imprensa, sua cadeira estava vazia. 

Lugar reservado para o diretor iraniano Jafar Panahi, que não pode comparecer ao Festival de Cannes por estar servindo pena em prisão domiciliar. - AFP/Laurent EMMANUEL


 
Mais do que um ataque ao governo, “3 Faces” é um libelo contra o conservadorismo provinciano e um aceno ao feminismo. A trama gira em torno de uma aspirante a atriz que pede socorro porque seus pais não permitem que ela ingresse num conservatório.
 
A história tem início com um vídeo feito pelo celular pela garota (Marziyeh Rezaieh). Ela relata a oposição de seus pais e termina se enforcando. As imagens são enviadas para Behnaz Jafari, atriz de sucesso que fica inconformada com sua incapacidade de ter ajudado a menina. 
 
Ela e o próprio Jafar Panahi, ambos interpretados por si mesmos, resolvem viajar ao lugar, um povoado ermo, cheio de gente conservadora, para descobrir se Marzieyeh de fato morreu.
 
“3 Faces” é o quarto filme que Panahi realiza após a condenação. É, portanto, uma obra clandestina. Em 2011, ele também dirigiu o documentário "Isto Não É um Filme" sobre a sua impossibilidade de filmar. O longa só pôde deixar o país por ter sido oculto num pendrive. 
 
Além de Panahi, outro diretor em competição neste ano também não pôde vir a Cannes por estar preso: o russo Kirill Serebrennikov, de “Leto”, crítico do governo Putin acusado de cometer crimes fiscais. 
 

O jornalista Guilherme Genestreti se hospeda a convite do festival

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.