Mallu Magalhães flerta com sintetizadores para não acordar a filha

De olho em novo disco, cantora faz últimos shows de 'Vem' e diz que polêmica sobre racismo a fez aprender

Rafael Gregorio
São Paulo

A maternidade transformou a vida de Mallu Magalhães, 25, e começa a influenciar sua musicalidade. 

É o que a artista diz sobre as canções que tem escrito, de olho em um novo álbum, no qual sinaliza se afastar do folk e da bossa nova que nortearam seu disco mais recente, o quarto de uma carreira iniciada em 2007.

É que a presença de Luísa, 2, vem afetando a forma de escrever canções e a sonoridade delas: no lugar dos sons de violão e guitarra, entram experimentos eletrônicos.

Tudo para não atrapalhar o sono da pequena. “Tenho estudado sintetizadores, pois muitas vezes o tempo que sobra é quando a Luísa está dormindo. Para não acordá-la, crio no computador; dá pra pôr o fone de ouvido e tocar em silêncio.”

Antes de pensar no futuro, Mallu faz shows no país para se despedir do velho repertório. O primeiro deles acontece nesta sexta-feira (3), em São Paulo, no qual estará acompanhada de banda.

No repertório, ela diz que estarão todas as canções de "Vem" (2017), mais hits de outros discos e músicas da Banda do Mar, que formou em 2014 com Camelo e o baterista português Fred Pinto Ferreira.

Será seu primeiro show por aqui desde o Lollapalooza, em março. Há cinco anos, ela vive com o marido Marcelo Camelo em Lisboa, onde tem feito shows elogiados pela imprensa lusa, que a chama de “paulista lisboeta” e recentemente a elogiou por uma letra que compôs e que chegou à semifinal do Festival da Canção, principal concurso musical do país.

“Fui muito bem acolhida aqui e sinto gratidão porque nesse período produzi três discos dos quais me orgulho e me desenvolvi como pessoa.”

Ser mãe trouxe influências além da música, diz a cantora em entrevista telefônica pontuada por intervenções da filha, que já fala bastante. “Me tornei uma pessoa mais equilibrada. Não quero criá-la numa bolha, mas queria gerar uma experiência agradável.”

Ser mãe também a fez correr mais rápido. Literalmente: é aficionada em corrida há anos e já disputou meias maratonas, mas agora prefere trechos menores com mais intensidade, para economizar tempo.

Também enveredou pela literatura infantil com o livro “Juju Bacana” (Matrix Editora, 2015, 32 págs.), um projeto atrasado em nome do distanciamento, diz.

“Era uma ideia que tinha desde a infância, mas adiei porque era associada à infantilidade. Hoje penso que teria sido mais fácil escrever para crianças enquanto eu era criança.”

São algumas entre as muitas mudanças na vida da artista desde que surgiu, ainda espinhenta adolescente, com o hit “Tchubaruba”, há dez anos —o mais incisivo exemplo de um brasileiro bem sucedido nas primeiras plataformas para divulgação de artistas independentes, como o Myspace.

Logo foi contratada por uma gravadora. Nos discos que vieram, afastou-se do folk rumo a um pop rock de acento “bossanovístico”.

Seus trabalhos —principalmente o álbum “Pitanga”, de 2011— foram elogiados por críticos e colegas, inclusive de outras gerações.

Gal Costa, por exemplo, gravou composição de Mallu (“Quando Você Olha pra Ela”) em seu “Estratosférica” (2015).

Já o duo Anavitória, sensação do pop folk recente, a menciona como uma de suas influências.

Mas o caminho do desenvolvimento não foi sempre tranquilo; a ascensão de debates identitários resvalou na cantora em 2017, quando lançou videoclipe para a canção “Você Não Presta”.

Nele, bailarinos negros e com poucas roupas dançam enquanto Mallu canta à frente deles.

A cantora foi acusada de hipersexualizar negros e de colocá-los em posição subalterna, reforçando estereótipos.

Primeiro, desculpou-se em uma rede social: “Fico muito triste em saber que o clipe possa ter ofendido alguém. Gostaria de pedir desculpas a essas pessoas”.

Depois, durante participação em um programa de TV, dedicou uma canção “para quem é preconceituoso e acha que branco não pode tocar samba”. Vieram mais críticas, e se calou.

Hoje, embora diga lamentar que tenha saído como antagonista de uma causa —a igualdade racial— da qual, diz, sempre foi a favor, ela afirma sua responsabilidade e entende que o episódio foi didático.

“Qualquer produção intelectual é uma chance de atuar pelo desenvolvimento do seu tempo, e eu, como compositora, me sinto responsável. Hoje olho o racismo e a presença negra de outra forma.”

Mallu Magalhães em São Paulo

  • Quando Sex. (3): 22h
  • Onde Tom Brasil - r. Bragança Paulista, 1.281, SP
  • Preço Ingr.: R$ 45 a R$ 100, pelo ingressorapido.com.br
  • Classificação 14 anos

Mallu Magalhães em Porto Alegre

  • Quando Qui. (9): 22h
  • Onde Bar Opinião - r, José do Patrocínio, 834, Porto Alegre (RS)
  • Preço Ingr. R$ 55 a R$ 160, pelo opiniao.com.br

Mallu Magalhães no Rio de Janeiro

  • Quando Qua. (15): 21h
  • Onde Theatro Net Rio - r. Siqueira Campos, 143, Rio de Janeiro
  • Preço Ingr.: R$ 60 a R$ 140, pelo site ingressorapido.com.br

Mallu Magalhães em Belo Horizonte

  • Quando Sáb. (18), a partir das 14h
  • Onde Festival Sarará + Sensacional - esplanada do Mineirão - av. Presidente Carlos Luz, s/n, Belo Horizonte
  • Preço Ingr.: R$ 25 p/ sympla.com.br

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