De repente, é como se a fala disparatada do ator Peter Sellers em "Lolita", filme de Stanley Kubrick, fosse evocada pela flauta. "Saccades" (a expressão remete a movimentos repentinos), concerto para flauta e orquestra do francês Philippe Manoury, estreou em julho na Alemanha, tendo o virtuose suíço Emmanuel Pahud como solista.

Ela será apresentada pela Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) a partir de quinta (13), na presença do compositor, tendo regência de Thierry Fischer e o próprio Pahud como solista.

A interação entre Manoury e a orquestra, no entanto, começa já neste domingo (9). "Stringendo", seu "Quarteto de Cordas nº 1", integra o recital do Quarteto Osesp.

Compositor visitante da Osesp na temporada, Manoury, 66, foi colaborador do Instituto de Pesquisa e Coordenação em Acústica/Música de Paris por mais de 30 anos e faz em suas obras uma interação com eletrônica e experimentos de espacialização do som.

Ele viveu em São Paulo entre os anos 1970 e 1980. Discípulo de Michel Philippot, um dos criadores do curso de música da Unesp, Manoury foi professor do Conservatório Brooklin Paulista a convite do educador Sígrido Levental.

Sugerida pelo compositor, a imagem do discurso caótico de Sellers inspira o momento final do concerto, cuja vibrante construção artesanal é fruto de sua "gramática gerativa", princípio coordenador das transformações dos materiais sonoros.

A estreia de "Saccades" foi muito bem recebida pela crítica lá fora, e o público de São Paulo pode acompanhar uma das primeiras performances de uma obra que pode ocupar lugar destacado no repertório.

A presença de Pahud amplifica a importância do evento, e é, em si, um atrativo (o flautista também fará um recital solo no sábado, 15/9, às 14h45).

Já "Stringendo" (2010) --"apertando", em italiano, termo musical que denota o aumento gradual da velocidade-- parte de um caos inicial, repleto de cortes súbitos, do qual emergem pizzicatos (sons beliscados, tocados sem arco) percussivos sobre um fundo de sons contínuos.

Aos poucos surgem explosões de glissandos (passagens sutis), cada vez mais rápidos, passando alternadamente de um instrumento a outro; até que uma monodia arrastada arremate a travessia.