Instituto Moreira Salles lança site dedicado à crônica brasileira

Portal reproduz fac-símiles de textos de expoentes do gênero, como Rachel de Queiroz

João Perassolo
São Paulo

​“Tanto neste nosso jogo de ler e escrever, leitor amigo, como em qualquer outro jogo, o melhor é sempre obedecer às regras. Comecemos portanto obedecendo às da cortesia, que são as primeiras, e nos apresentemos um outro”. É assim, com um aceno ao leitor, que a escritora Rachel de Queiroz começa sua primeira crônica, intitulada modestamente “Crônica nº1”, na revista O Cruzeiro de 1 de dezembro de 1945.

Reproduzida em versão fac-símile no Portal da Crônica Brasileira, site do Instituto Moreira Salles (IMS) que tem lançamento nesta quarta-feira (12), no Rio de Janeiro, a coluna da autora de O Quinze é apenas uma entre as 2.470 crônicas disponíveis para consulta da forma como vieram a público: em páginas de revistas e jornais. “Era assim que as crônicas eram originalmente publicadas, e este é o diferencial do site”, afirma Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS e principal organizadora do Portal.

​Os recortes dos periódicos disponíveis nesta espécie de máquina do tempo da crônica brasileira são de nomes importantes do gênero, como Paulo Mendes Campos, Rachel de Queiroz e Otto Lara Resende. “A ideia é criar um repositório de crônicas e dar mais visibilidade deste material para o público. Embora disponível na base de dados do IMS, os textos acabam sendo mais procurados por pesquisadores”, diz Bezerra. Os textos foram pinçados do acervo de mais de 10 mil itens doados ao IMS pelas famílias dos cronistas, e constituem o que Bezerra considera o “período de ouro” do gênero no Brasil – as décadas de 50 e 60. 

Caricatura da escritora Rachel de Queiroz
Caricatura da escritora Rachel de Queiroz - Cássio Loredano / Instituto Moreira Salles

Completam o lote inicial 816 crônicas de Rubem Braga, reproduzidos graças à uma parceria com a Fundação Casa de Rui Barbosa, e uma seleção de textos de Clarice Lispector e Antônio Maria – este, apenas em versão transcrita a partir de material editado em livro, já que o pernambucano não tinha o hábito de guardar o que escrevia. Segundo a organizadora, autores como Fernando Sabino, Mário Quintana e Benjamin Costallat devem ser adicionados com o tempo, além de cronistas contemporâneos.

O editor do site, Humbero Werneck, justifica a escolha pelo formato de tom mais informal: “Diferentemente do articulista e do editorialista, que nos dão a impressão de estar falando do alto de um caixotinho, o cronista genuíno parece estar de papo com cada leitor, sentados os dois na informalidade de um meio-fio, em clima de deleitosa cumplicidade”.

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