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São Paulo mostra tecnologia vestível para dar utilidade a geringonças hi-tech

Exposição de designer japonês e festival de 'wearable' têm de roupa fotossensível a joias 3D

Pedro Diniz
São Paulo

Desde que o termo “wearable technology” (tecnologia vestível) entrou no dicionário da moda, tenta-se unir “nerds” e “fashionistas” para que, juntos, consigam criar o traje do futuro. Dos frutos dessa união, porém, só incontáveis versões de relógios inteligentes caíram no gosto, e nos pulsos, da massa. O desafio é tornar belas, ou ao menos “vestíveis”, as geringonças saídas dos centros de pesquisa.

A partir desta terça (6), São Paulo apontará caminhos palpáveis para esse casamento com uma exposição do estilista japonês Kunihiko Morinaga na Japan House, a primeira de moda da instituição paulistana, e o festival de tecnologia vestível WeAr, que começa em 12 de novembro, com atividades na multimarca Cartel 011, na zona oeste.

Um dos raríssimos estilistas especializados na área, Morinaga trouxe à cidade criações que emitem luz ao serem tocadas, roupas fotossensíveis que ganham cor e formas quando iluminadas, e vestidos da última coleção de sua grife, a Anrealage, cujos paetês reagentes à luz foram destaques na última semana de moda de Paris, no mês passado.

Diferentemente da ideia de “gadget”, um acessório de vestuário conectado ao celular ou com alguma utilidade prática para usá-lo, suas roupas utilizam a tecnologia têxtil com propósito estético. E ele leva as aparências ao pé da letra.

Como se reproduzisse a importância da cultura digital na confecção de roupas, sua primeira instalação é um conjunto de roupas brancas que esconde cores e estampas visíveis apenas sob a luz do flash. A olho nu a roupa é minimalista, conserva a costura japonesa, mas na foto, berra em cores e formas de origami.

“Meu propósito é questionar o que é real aos nossos olhos. Tento transformar peças banais do cotidiano em algo irreal, mostrando a matéria tátil e um outro lado que parece não existir”, diz Morinaga, horas antes da inauguração de “A Light Un Light” (um trocadilho para algo como uma luz, sem luz).

O jogo de sombras que o título da mostra sugere está explícito na série de vestidos rendados cortados a laser que, colados a bases pretas, parecem saltar do corpo. Morinaga cria o efeito de sombra estática, um truque óptico que só simula a noção de tridimensionalidade nas peças.

Elas reproduzem o processo criativo do designer, premiado por transferir para a produção de moda um olhar de arte, que é de iniciar suas coleções a partir de palavras. 

“Aqui [no bloco de rendas] meu ponto de partida foi a sombra e como ela pode mudar a forma da pessoa quando posicionada de uma forma específica”, explica. “Tento provar que esse pensamento também é moda.”

A mesma ideia se aplica a uma sala em que três vestidos estão no meio de um círculo no qual uma luz corre ininterruptamente em volta delas. Dependendo do lugar onde o espectador está, as formas e a cartela de cores assumem tonalidades diferentes.

Esse esforço de colocar o têxtil em favor da criação escancara a face escondida da indústria fashion tradicional, bem menos inovadora do que ela prova ser a cada temporada. “Quando comecei a desfilar em Paris muita gente criticou, disse que meu trabalho não deveria estar ali [na passarela]”, conta Morinaga.

“Mas, se pensarmos no significado da moda, de representar uma época, é a indústria que está atrasada em não tentar inserir as possibilidades da tecnologia real na 
criação de roupas.”

Foi pelo mesmo caminho de tornar acessível a tecnologia que a consultora Alexandra Farah concebeu a quarta edição do WeAr, único festival de “wearable gadgets” do país.

Se nas primeiras edições ela se empenhou em trazer a São Paulo o tênis autoamarrável do filme “De Volta Para o Futuro 2” (1989) e uma jaqueta jeans da Levi’s que, por meio de nanotecnologia, tem propriedades “touch screen”, nessa preferiu botar os pés no chão e apoiar designers locais.

Em parceria com a Amazon, Farah montou um estande na loja Cartel 011 na qual as pessoas poderão provar joias feitas em impressora 3D pela empresa WeMe, bolsas que, quando ligadas na tomada, cozinham alimentos, e uma outra que usa placas fotovoltaicas para carregar o smartphone com energia solar.

“Percebi que não há inovação sem sustentabilidade, tanto econômica quanto ambiental. Sem esses dois conceitos, caímos no campo das ideias de ‘clube de inventores’, aqueles que produzem acessórios sem propósito”, explica Farah.

Propondo alternativas para o varejo, ela também mostrará soluções como a da marca Genyz, do estilista Caire Moreira, que desenvolveu um processo de customização no qual o cliente é escaneado por meio de um tablet e tem suas medidas exatas calculadas.

A IBM também lançará, no primeiro dia do evento, a primeira blockchain do Brasil. Trata-se de uma espécie de ferramenta na nuvem que, a partir de uma tag ou código colado à roupa, permite ao usuário acessar as etapas de produção daquela peça, desde quem colheu o algodão até quem costurou a peça.

“É uma boa oportunidade para empresas serem mais transparentes em seus processos. A tecnologia não pode servir apenas para solucionar a vida de quem compra, mas também de quem faz”, afirma a diretora do evento.

Segundo ela, a grande sacada na nova geração de “designers tecnológicos” é aplicar a inovação têxtil em favor dos recursos naturais do planeta, como, por exemplo, a criação de um tecido feito a partir da teia da aranha, que pode substituir a seda tradicional.

“É um engano achar que o mundo vai se desindustrializar para se tornar ecológico. Mas devemos imaginar novos caminhos, porque desde antes dos tempos de Jesus Cristo usamos os mesmos linho, algodão e seda.”

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