Alê Youssef quer promover pontes com circuito privado na Cultura em São Paulo

Novo secretário traça oito estratégias e quer aproximar equipamentos culturais da população

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São Paulo

O novo secretário municipal de Cultura, Alê Youssef, que assumiu o cargo no último dia 15, em substituição a André Sturm, diz estar se sentindo como quem precisa trocar um pneu com o carro andando. Mas já tem as estratégias para seguir em frente sem acidentes.

Ele pretende valorizar a diversidade, aproximar os equipamentos culturais das cenas e manifestações que proliferam na cidade e estabelecer relações com o circuito cultural privado.

“Em linhas gerais a ideia é criar pontes, aproximar diferenças e trabalhar com a lógica da diversidade e da pluralidade cultural”, disse à Folha nesta quinta (31) em seu escritório na rua Líbero Badaró, no histórico edifício Sampaio Moreira —de 1924, o primeiro arranha-céu da cidade.

homem de cabelos pretos mexendo a mão
Alê Youssef, novo secretário de Cultura da cidade de São Paulo, em entrevista - Keiny Andrade/Folhapress

Além de “reconectar São Paulo com suas expressões culturais e fazer com que a secretaria seja um facilitador”, o secretário quer implantar um grande calendário cultural paulistano que articule eventos e ações públicas com as atividades de caráter comunitário ou promovidas por instituições privadas de peso, como o Sesc, o Itaú Cultural e o Instituto Moreira Salles.

“O Sesc tem um papel fundamental na cidade. Já conversei também com o Instituto Cultural Itaú. O corredor cultural da Paulista terá um papel muito importante”, diz.

Ainda tomando pé da situação, Youssef já escolheu a jornalista Erika Palomino para dirigir o Centro Cultural São Paulo e convidou o rapper Xis para trabalhar como assessor na área de hip-hop. Outros nomes conhecidos virão, como o ator Pedro Granato, que vai cuidar do setor de teatro e dos centros culturais da prefeitura.

O secretário anunciou oito linhas de ação ou, como prefere, “movimentos”, que vão nortear a atuação da prefeitura.
 
“O primeiro deles é a articulação de um calendário cultural unificado público e privado. Esse movimento tem obviamente uma dimensão de integração das ações que realizamos e realizaremos. A agenda cultural maior, de impacto público, como a Virada, que servirá de exemplo, terá uma interface e uma articulação com os equipamentos da secretaria, as casas de cultura, as bibliotecas, os centros culturais e os teatros", diz. 

"Vamos procurar também uma aproximação com o que existe no ambiente privado, desde a ação de movimentos culturais comunitários, passando pelo pequeno empreendedor cultural, o médio e até o grande, que faz eventos de maior visibilidade. A ideia é termos todos dentro de uma mesma sinergia", completa.

Sobre esse calendário, diz ainda que "poderá trazer desde uma ação de uma biblioteca da periferia até o festival Lollapalooza; do São Paulo Fashion Week a um show numa casa de cultura".

"Toda essa articulação pode gerar um ambiente benéfico de parceria e troca entre o setor privado e o setor público, numa relação de ganha-ganha. Vamos aproveitar essa vitalidade cultural em benefício do cidadão e da cidadã, que terão uma oferta organizada e compreensível do que acontece na cidade em termos culturais. E São Paulo poderá apresentar esse portfólio de uma capital mundial da cultura, que já é, embora precise se organizar e se estruturar para demonstrar sua potência.”
 
O segundo movimento, explica Youssef, será a “reestruturação e repactuação dos editais de fomento e incentivo à cultura por meio do Promac (Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais), que é recente e precisa ser aperfeiçoado".

É preciso, segundo ele, desburocratizar e facilitar o acesso e melhorar a divulgação. "Para se ter uma ideia, o Promac tem uma linha de R$ 15 milhões aprovada e só foram usados R$ 2,5 milhões no ano passado. Vamos buscar destravar também determinados fomentos, como o de teatro, que está parado por problemas judiciais devido a um problema no edital de 2017.”
 
“Em terceiro lugar, estamos interessados em fortalecer um grande processo de difusão literária”, diz o secretário. “A gente tem uma rede espetacular de bibliotecas na cidade, com uma capilaridade impressionante. E São Paulo tem uma espécie de tecnologia desenvolvida em bairros da periferia, que são os saraus literários e os slams. Vamos trabalhar para aproximar essas novas formas de difusão literária da rede de bibliotecas municipais. É um movimento importante de aproximação. A Mário de Andrade vai funcionar aqui como o farol, a representação central dessa ideia de aproximar as bibliotecas públicas das novas expressões de difusão da literatura.”
 
O quarto movimento diz respeito ao uso do espaço público. “Todas as expressões e atividades culturais que pretendam ocupar de forma gratuita, democrática e aberta a cidade podem ter o apoio da secretaria, que funcionará como indutor desses processos. Temos diversas ações importantes nessa área, como as Ruas Abertas e a própria Virada Cultural. Uma coisa que já acontece e pode acontecer muito mais”, diz.
 
O quinto movimento tem a ver com o quarto, mas é mais dirigido à arte urbana: o grafite, o lambe-lambe, a fotografia e a poesia em lugares públicos. "É preciso valorizar a dimensão comunitária mas ter também uma visão mais ampla. Pensamos em criar uma comissão que exerça um papel curatorial para espalhar essas produções por grandes empenas, grandes muros, grandes espaços de visibilidade“, diz Youssef.
 
A sexta linha é a integração dos equipamentos culturais da prefeitura com artistas e cenas locais, que estão no entorno desses equipamentos e muitas vezes não fazem parte da programação oficial. “Vamos criar mecanismos de inscrição dessas manifestações nos equipamentos. As casas de cultura têm que estar abertas para as comunidades e compreender as cenas culturais locais. Podemos dar como exemplo o CCSP (Centro Cultural São Paulo, na Vergueiro), que é um espaço organicamente ocupado por cenas, como a cena de voguing ou a de hip-hop. A Erika Palomino, que será a diretora,  e eu entendemos que o CCSP pode ser uma espécie de farol dessa nova política de aproximação das expressões culturais que estão querendo se apropriar dos espaços ou, melhor, querendo pertencer.”
 
O sétimo movimento é voltado para a memória da cultura paulistana. “Precisamos estabelecer maneiras de contar e mostrar a história cultural da cidade, que é berço de grandes manifestações. Temos esquinas históricas, como a Ipiranga com a São João, prédios importantes, como o da exposição da Anita Malfatti na Libero Badaró, a Benedito Calixto que foi palco da vanguarda paulistana, a galeria Metrópole que foi ponto de encontro na época do tropicalismo. A ideia é mapear histórias e lugares e espalhar marcos que contem o que aconteceu ali.”
 
Por fim, o oitavo movimento é promover um reencontro da cidade com o modernismo. “Queremos que o Theatro Municipal reencontre a vocação multicultural da Semana de 22. E já vamos começar a pensar numa comissão para iniciar os estudos e propostas para o centenário", finaliza ele. 

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