Descrição de chapéu Artes Cênicas

Monstro de seis metros com expressões humanas dá vida a King Kong na Broadway

Dez atores manipulam marionete de mais de 900 quilos, cujas emoções são controladas por 16 microprocessadores

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A atriz Christiani Pitts como Ann Darrow na versão musical do filme

A atriz Christiani Pitts como Ann Darrow na versão musical de "King Kong" na Broadway Matthew Murphy/Divulgação

Nova York

Começa com um par de olhos ameaçadores em meio a um cenário completamente escuro. E a mocinha, nem tão desprotegida nesta versão, gritando a plenos pulmões. Enquanto isso, a plateia só ouve uma espécie de rugido, até que uma mão gigante pega a donzela e a leva para dentro da selva.

As formas do boneco gigante de "King Kong" na Broadway vão sendo reveladas aos poucos nesta primeira cena. Na verdade, é só ao longo da peça que o público passa a entender toda a composição e o trabalho dos dez atores que movimentam o fantoche de seis metros de altura e mais de 900 quilos.

O responsável por desenhar a criatura, Sonny Tilders, diz que tentou fazer uma espécie de simbiose entre o espetáculo e o gorila. Para ele, a técnica para conceber o fantoche era óbvia. “O espetáculo não poderia exigir que o boneco fizesse coisas fisicamente impossíveis, então era preciso uma flexibilidade para fazer o máximo que um boneco pudesse fazer.”

Ainda que haja limitações, elas não transparecem para o público que vai ao teatro Broadway assistir ao musical, que estreou oficialmente em novembro (com ingressos que chegam a US$ 399) e cuja produção custou US$ 35 milhões (cerca de R$ 130 milhões).

Pelo contrário. King Kong corre, ruge, escala o edifício Empire State, aparece enjaulado quando se dá ênfase às expressões faciais do boneco, só para citar alguns dos efeitos.

Para Tilders, achar uma forma de expressar as emoções do personagem foi justamente o ponto menos óbvio da coisa toda. “Nós precisávamos criar um ser que não apenas compartilhasse o palco com atores, mas que também pudesse atrair o público para seu mundo interior, para o que ele pensa e sente.”

“Ainda que fosse excitante fazer um monstro assustador e grande para cumprir todas as exigências de ação, o que realmente me interessou foi criar um personagem com expressões sublimes e sutis.”

Para operar o boneco, os artistas “vudu”, como Tilders chama, usam controles remotos que ajudam a criar as expressões do gorila. A “atuação” é ao vivo, e não por meio de movimentos e expressões pré-gravados, o que poderia tirar espontaneidade da peça.

Ao todo, 16 microprocessadores são responsáveis pelas emoções do boneco. “Sabíamos que era importante dar ao Kong a mesma flexibilidade de qualquer ator humano no palco para responder a outros atores em torno dele.”

Outra preocupação era que a criatura, a grande estrela da peça, não ofuscasse completamente a história —que tem lá suas adaptações em relação, por exemplo, ao filme de Hollywood de 1933, dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack.

O musical de King Kong, assim como o primeiro filme, traz Nova York sob efeito da recessão que atingiu os Estados Unidos após o crash da Bolsa de Valores de 1929. É nesse contexto que a mocinha Ann Darrow (Christiani Pitts) aparece, em busca de uma oportunidade como atriz.

Como no filme, só dá com a cara na porta. Até esbarrar em um diretor, Carl Denham (Eric William Morris), que, mesmo sem um roteiro, promete transformá-la na estrela que ela deseja ser. A ideia inovadora é levá-la a uma ilha desconhecida e misteriosa, a Ilha da Caveira. E ligar a câmera. Partem os dois, uma equipe de marinheiros e outros personagens em direção ao local, onde encontram a criatura.

Mas a Ann de Christiani Pitts, atriz negra, não é a donzela em perigo interpretada por Fay Wray, branca, no clássico de 1933. A personagem da versão musical, concebida pelo diretor e coreógrafo Drew McOnie, é destemida. “Eu queria criar uma mulher a que minha sobrinha pudesse aspirar ser. Eu queria que ela tivesse a força de rugir de volta [para o gorila, como ocorre na peça]. Eu queria que Ann fosse uma guerreira em um mundo como as mulheres incríveis pelas quais sou cercado, e não como alguém que espera para ser resgatada”, diz ele.

As interações da personagem com o boneco gigante são o ponto alto da peça, na avaliação do diretor. “Eu achei que o maior desafio seria criar uma sensação real de confiança e química entre os personagens de Ann e de Kong. Meu medo era que, como Kong era um boneco, criar um envolvimento forte entre os dois personagens poderia ser um desafio. No entanto, rapidamente provaram que eu estava errado”, brinca.

Para ele, a aura do gorila e o “espírito poderoso” de Pitts são como dinamite no palco. E é pura dinamite que se vê mesmo, principalmente nas cenas em que as expressões do boneco e as da atriz são colocadas à prova, nos poucos momentos em que os dois interagem sós —na selva ou depois, quando ele é levado a Nova York para ser exibido como atração por Denham, por exemplo.

A produção buscou criatividade para solucionar algumas cenas, como a escalada do Empire State ou a viagem de Ann e Denham à Ilha da Caveira. O cenário se transforma diante dos olhos do público, com a ajuda de iluminação, painéis e estruturas que vão se convertendo em andaimes, barcos ou uma floresta.

A peça foi desenvolvida pela produtora australiana Global Creatures, que fez milhões produzindo animais eletronicamente animados e lançou quatro musicais em três continentes, entre eles "King Kong". Os outros são “Moulin Rouge!”, em Boston; “Strictly Ballroom”, em Londres, e “O Casamento de Muriel”, em Sydney. 

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