Disputa entre canais de YouTube é acirrada por hackers e apoio de atirador

PewDiePie, do sueco Felix Kjellberg, e o indiano T-Series têm mais de 91,5 milhões de inscritos cada um

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PewDiePie, do sueco Felix Kjellberg, e o indiano T-Series

O indiano T-Series, dirigido pelo produtor Bhushan Kumar Divulgação

São Paulo

No último dia 15, o atirador de extrema direita na Nova Zelândia, ao abrir sua transmissão ao vivo pelo Facebook do assassinato de 50 homens, mulheres e crianças, virou a câmera para o próprio rosto e disse: "Lembrem-se, rapazes, inscrevam-se no PewDiePie".

A frase é parte de uma campanha online de sete meses para garantir que PewDiePie —o sueco Felix Kjellberg, que publica vídeos em inglês com paródias, comentários de games e outros conteúdos— continue sendo o maior canal de YouTube em número de inscritos, posição que passou a ocupar em 22 de dezembro de 2013.

Em agosto do ano passado, a empresa de rastreamento e análise Social Blade projetou que ele seria ultrapassado em poucos meses pelo canal indiano T-Series, que publica vídeos de música. A campanha foi disparada então por um vídeo de PewDiePie, que se espalhou principalmente pelos Estados Unidos e foi pontuada por episódios racistas desde o início.

O próprio Kjellberg lamentou há três meses, em outro vídeo que subiu no YouTube. "Tem uma parte disso de que não gosto. Às vezes você vê: 'Fodam-se os indianos'. É de mau gosto, desnecessário. É claro que eu já fiz piadas com indianos, mas faço piadas de todos os países. E não é isso que eu sou."

Também houve casos isolados de hackers que invadiram impressoras, notebooks e smart TVs e até desfiguraram uma página do site do Wall Street Journal, que havia publicado uma reportagem crítica a PewDiePie, para espalhar a mensagem de inscrição no canal.

PewDiePie, do sueco Felix Kjellberg, e o indiano T-Series
PewDiePie, do sueco Felix Kjellberg - Divulgação

Mas o apoio era em sua maior parte civilizado, com celebridades digitais como MrBeast ou Elon Musk, o fundador e presidente da montadora Tesla, espalhando a frase célebre. Isso, até o terrorista atacar as mesquitas neozelandesas e, por assim dizer, dedicar sua ação a PewDiePie.

Kjellberg rejeitou quase imediatamente a associação com o massacre de muçulmanos e, sempre nas redes sociais, declarou estar "absolutamente enojado com o fato de meu nome ser pronunciado por essa pessoa". Mas o estrago estava feito.

Na sequência, começaram as derrotas quase diárias de PewDiePie, só revertidas por ações desesperadas de recrutamento de novos inscritos quando chegavam as madrugadas na Índia. A campanha foi acelerada, estimulada dia após dia por vídeos provocativos de Kjellberg.

Mas foram ampliadas também as ações mais agressivas, até ilegais. A empresa de segurança cibernética Emsisoft identificou há uma semana um "ransomware", software malicioso desenvolvido para bloquear acesso a um computador até que seja pago um "resgate".

No caso, a mensagem deixada pelo software parece bem humorada, mas a ameaça é real, segundo a Emsisoft: "Inscreva-se no PewDiePie. Se o T-Series vencer o PewDiePie, a chave eletrônica privada [do computador] será deletada e os seus arquivos serão perdidos para sempre!".

Por outro lado, o apoio mais franco à campanha enfrentou deserção no YouTube, com supressão de vídeos e mensagens. Onision, pseudônimo do americano Gregory Jackson na plataforma, defendeu abandonar inteiramente a frase, que "não é engraçada, não é 'cool' e marcou um dos maiores fuzilamentos em massa da história".

Com ou sem resistência dos fãs de PewDiePie, poucos questionam que o T-Series vencerá a corrida. O canal indiano sobe vídeos em número maior, seis ou sete por dia contra um, para uma audiência também maior, no segundo país mais populoso do mundo, com 1,35 bilhão de pessoas —a caminho de sobrepujar a China continental, que tem quase 1,4 bilhão.

E o T-Series não ficou parado. Há três semanas, seu presidente, o produtor musical e de cinema Bhushan Kumar, lançou em mídia social a campanha #BharatWinsYouTube (Bharat, a designação em hindi para Índia, ganha o YouTube) prometendo "fazer história levando a Índia à vitória".

Em convocação nacionalista, quase uma resposta aos tons preconceituosos do outro lado, afirmou Kumar: "Existe um canal indiano prestes a virar o número um no mundo. Ele pertence a você, a toda a nação. Então vamos nos unir e nos inscrever no T-Series no YouTube e deixar a Índia orgulhosa".

Algumas das maiores estrelas de Bollywood, o centro da indústria cultural e cinematográfica em hindi no país, em Mumbai, embarcaram na campanha, como o ator Anil Kapoor, do filme "Quem Quer Ser um Milionário?" (2008) e o cantor e também ator Armaan Malik.

O T-Series não é a única evidência de que os canais com maior produção e de países emergentes começam a "ganhar o YouTube". Em outubro, o brasileiro KondZilla deixou para trás o canal do cantor canadense Justin Bieber e ocupa desde então a terceira posição na plataforma, com 48 milhões de inscritos para os seus vídeos de funk.

O empresário e diretor Konrad Dantas, cujo canal tem 40,4 milhões de inscritos 
O brasileiro KondZilla - Divulgação

Konrad Dantas ou KondZilla, empresário do audiovisual e idealizador do fenômeno brasileiro, é um dos fãs do T-Series. "Acho muito legal, porque, além de música, ele entrega conteúdo de comportamento, de bastidores. Não é só canal de música, apesar de ser classificado assim."

Dantas descreve o T-Series como "o canal do SBT no YouTube multiplicado pelo KondZilla", mas enfatiza que é a música, tanto no caso indiano como no brasileiro, que explica o êxito na plataforma, pelo acesso maior e mais frequente do vídeo. "Você ouve a música mais", diz ele.

Na conclusão desta reportagem, às 20h20 da quarta-feira (27), o T-Series contava 91,58 milhões de inscritos. O PewDiePie, 91,56 milhões. Mas a variação é constante.

Em número de visualizações de vídeos, o canal indiano está muito à frente. Estabeleceu-se já no ano passado na primeira posição na plataforma, contando até a noite desta quarta 85,95 bilhões de visualizações. O PewDiePie é somente o décimo colocado, com 20,86 bilhões, atrás também do KondZilla.

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