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Ferréz se junta a canal do YouTube e lança selo para publicação de quadrinhos

Nova editora de quadrinhos, Comix Zone lança HQ 'A Canção de Roland', do canadense Michel Rabagliati

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Télio Navega
Rio de Janeiro

Capão Redondo, em São Paulo, e Hochelaga-Maisonneuve, em Montréal, são dois pontos extremamente distantes entre si que, conectados de forma imprevisível, dão origem a uma nova editora de quadrinhos,  chamada Comix Zone. 

No Brasil, a ideia partiu do escritor Ferréz, que convidou o designer Thiago Ferreira, no exterior, e, juntos, acabam de lançar a primeira HQ da parceria: “A Canção de Roland”, do canadense Michel Rabagliati.

O nome da editora é o mesmo do canal que Ferreira mantém no YouTube e que nasceu no início de 2015.

Atualmente conta com cerca de 40 mil inscritos. E, como o nome em inglês entrega, abrange o universo dos quadrinhos com bastante conteúdo crítico.

“Chegou um momento em que falar só sobre quadrinhos não era mais suficiente. Eu queria dar uma contribuição maior à indústria”, explica Ferreira, que nasceu em Maceió e vive desde 2010 no Canadá.

“Mas um projeto dessa envergadura não se toca sozinho, ainda mais quando se mora fora do Brasil.”

Apaixonado pela leitura de gibis desde a infância, na periferia, o escritor Ferréz acompanha o canal do conterrâneo e, ao descobrir, num vídeo, que o futuro sócio pensava em publicar quadrinhos, correu atrás e fez o convite.

“Estava assistindo ao canal do Thiago quando ele falou que havia feito um curso de editoração e que gostaria de montar uma editora”, conta o escritor, que é também editor do selo independente Povo e já revelou vários autores da literatura marginal. 

“Fiz o primeiro contato com ele pelo Instagram e, hoje, nos falamos mais do que com nossas respectivas mulheres.”

“A Canção de Roland” parece ter sido uma escolha acertada para a estreia da editora Comix Zone. O autor, o canadense Rabagliati, nunca havia tido uma obra publicada no Brasil, mesmo com 20 anos de carreira e uma dezena de livros lançados no exterior. 

Suas HQs expõem as memórias de um homem chamado Paul em diversas fases de sua vida. E qualquer semelhança com a biografia de Rabagliati não é coincidência, já que o desenhista produz o que
é chamado de autoficção.

“Eu não acho que inventei nada de especial, só tinha uma queda enorme por esse quadrinho mais realista, sem retoques, em preto e branco e voltado para adultos”, afirma o autor, que se diz influenciado por obras como “Epiléptico”, do francês David B. e “Maus”, do americano Art Spiegelman. 

“Peguei carona nesse trem que passou, queria fazer parte da viagem, mesmo que não publicasse tanta verdade. Era o tipo de história que eu queria contar.”

Publicado originalmente como “Paul à Quebec”, em 2009, “A Canção de Roland” foi o sexto volume da série e é o mais celebrado do autor, tanto é que lhe rendeu o prêmio do público no Festival de Angoulême no ano seguinte e virou filme em 2015. 

Curiosamente, na história Paul não é o protagonista. A estrela é o sogro do desenhista, Roland, que descobre um câncer incurável. A partir daí, a família do personagem precisa lidar com a perda iminente de seu progenitor. 

Ainda que o tema seja fúnebre, Rabagliati consegue fazer uma HQ leve e emocionante dosando humor e a tristeza, com direito a trechos que rememoram a juventude do autor da obra.

“Algumas de minhas histórias são 100% verdadeiras, outras 75%. Mas a verdade pura não me importa. Eu procuro, entre os eventos de minha vida, aqueles que poderiam interessar ao leitor, pois gosto de extrair poesia do cotidiano. Acho que o exercício é tentar tocar as pessoas com o que elas conhecem, mas não valorizam”, afirma Rabagliati.

Segundo Thiago Ferreira, o próximo título da editora Comix Zone sairá no mês de setembro e será um clássico que dialoga com o atual contexto político do Brasil. 

A Canção de Roland

  • Preço R$ 75,90 (192 págs.)
  • Autor Michel Rabagliati (tradução: Thiago Ferreira)
  • Editora Comix Zone
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