Felipe Neto cola no antibolsonarismo para apagar imagem de rude

Carioca ganhou visibilidade positiva ao distribuir livros com temática LGBT na Bienal do Rio

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São Paulo

Mais perigoso que doce em excesso e slime no cabelo, Felipe Neto era sinônimo de problema entre os pais até pouco tempo atrás. 

Por anos ele foi detestado pelo vocabulário e pelas opiniões. Hoje, no entanto, o dono do quinto canal do YouTube mais assinado do mundo ganhou status de herói entre setores da sociedade. Peita a censura, diz que lê todos os dias, virou ídolo da classe artística e cita um provérbio para justificar sua guinada: “O sábio pode mudar de opinião, o ignorante, nunca”.

Desde 2013, ele vem admitindo publicamente o que chama de “erros e preconceitos” antigos. O episódio da Bienal do Livro carioca, quando distribuiu 14 mil livros com temática LGBT, serviu para lhe dar a visibilidade positiva que ele buscava.

Se no passado eram os palavrões que incomodavam, hoje é seu posicionamento político que cutuca o calo dos desafetos. Classifica a gestão de Jair Bolsonaro como “desgoverno obscurantista, anticiência e preconceituoso” e não hesita em defender minorias.

Na última semana, anunciou reforço na equipe de segurança. Nesta segunda (16), por causa de ameaças que afirma ter recebido, cancelou sua participação num evento de educação e avisou que havia mandado sua mãe para fora do Brasil. Viu seu nome virar hashtag de ódio.

“Isso faz parte da estratégia do PSL, eles têm pessoas contratadas para isso”, conta, em entrevista à Folha por email. 

O youtuber defende que seu canal não tem relação com filosofia política. “Sou um apresentador de humor e diversão”, explica. “Meu público majoritário é o infantojuvenil, jamais o infantil. De todo modo, carrego a responsabilidade de falar com milhões de jovens, e levo isso a sério.”

Aos 31 anos, nascido no Rio de Janeiro, onde vive até hoje, ele conta que foi criado “em um mundo reacionário e bastante religioso”. Diz que, por meio da literatura e do contato com minorias, percebeu “que precisava evoluir como ser humano”.

Faz terapia e se cerca de “pessoas que não passam a mão na cabeça”. “Esses elementos são os mais importantes para não se deixar vencer pelo ego”, avalia, ao lembrar os 34,4 milhões de seguidores.

Desde 2010, quando o canal “começou a dar certo”, conta que passou a “monetizá-lo”, criando uma estrutura empresarial. Hoje é dono de quatro companhias —Netolab, Play9, InStudios e Vigia de Preço— e pretende inaugurar outras duas ainda em 2019. Trabalha 16 horas diárias e engorda a renda com publicidade e produtos licenciados.

Neto se diz comedido nos gastos. Vez ou outra, cede aos desejos, mas não a todos. “Eu não comprei o Botafogo”, diz. Ao lado do irmão e também youtuber Luccas Neto, dá à mãe “uma vida de princesa”. “Nós estamos aqui hoje porque ela optou por trabalhar 12 horas por dia para que tivéssemos comida e estudo.”

O interesse por política vem desde a adolescência. Ainda assim, afirma não ter “nenhuma vocação” para carreira na área. “Sou mais útil do lado de fora. Votei no Ciro no primeiro turno e contra o Bolsonaro no segundo. Fiz minha parte tentando impedir que esse desgoverno assumisse.”

Neto propõe que o presidente comece “a ler livros que possibilitem o entendimento básico sobre sociedade, humanidade, meio ambiente e economia”. “Porém, eu sinceramente questiono se o Bolsonaro sabe ler. Não digo isso para provocar, mas realmente questiono.”

O youtuber promete continuar com o olhar crítico e os questionamentos, mas entende que há campos minados a evitar. “Há assuntos que mexem em vespeiros mais perigosos, como as milícias no Rio e a ligação com políticos”, diz.

“Só posso fazer minha parte como ser humano. Minha luta é pelo amor, a aceitação, a igualdade e a diversidade.”

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